Cabo Verde torna-se o terceiro país de África livre de malária

“É um dos poucos países que têm feito muito bons progressos na malária”, disse o director-geral da Organização Mundial de Saúde de visita ao arquipélago.

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O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, recebendo o certificado das mãos do director-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus DR
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou nesta sexta-feira, em comunicado, ter certificado Cabo Verde como um país livre de malária, tornando-se assim o terceiro em África a livrar-se da doença, depois das Maurícias em 1973 e da Argélia em 2019.

“Cabo Verde é um dos poucos países que têm feito muitos bons progressos na malária”, disse o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na quinta-feira, depois da visita a um centro de saúde no concelho de Santa Cruz, na costa leste da ilha de Santiago.

Ghebreyesus, que se deslocou a Cabo Verde para assinalar a certificação, elogiou as infra-estruturas e o trabalho que o país tem feito no sector da saúde, salientando que, entre hospitais e centros de saúde, a “cobertura é muito boa”.

“É impressionante, mas não quer dizer que não existem coisas para melhorar, claro que há, mas o que Cabo Verde tem feito é impressionante”, sublinhou, citado pela agência Lusa.

Esta é uma “conquista significativa na saúde global”, como refere a OMS no comunicado, que junta o país ao grupo de 43 países e um território a que a organização atribuiu essa certificação. Cabo Verde está há mais de cinco anos sem qualquer caso autóctone de malária (ou paludismo, como também é conhecida a doença).

A malária afecta anualmente cerca de 250 milhões de pessoas em todo o mundo e causa mais de 600 mil mortes, e, num continente como África, onde se registam 95% dos casos a nível mundial e 96% das mortes pela doença, “a certificação da eliminação da malária impulsionará um desenvolvimento positivo em muitas frentes para Cabo Verde”, diz a OMS no comunicado.

Os sistemas e estruturas construídos para a eliminação da malária “reforçaram o sistema de saúde e serão utilizados para combater outras doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue”, doença com um surto registado desde final do ano nalgumas ilhas cabo-verdianas.

No comunicado, Ghebreyesus fez questão de saudar “o Governo e o povo de Cabo Verde pelo seu compromisso inabalável e resiliência na jornada para eliminar a malária”.

Para o director-geral da OMS, esta certificação “é uma prova do poder do planeamento estratégico de saúde pública, da colaboração e do esforço sustentado para proteger e promover a saúde”.

“O sucesso de Cabo Verde é o mais recente na luta global contra a malária e dá-nos esperança de que, com as ferramentas existentes, bem como com as novas, incluindo as vacinas, possamos ousar sonhar com um mundo livre da malária”, acrescentou.

“A certificação como país livre de malária tem um impacto enorme e demorou muito para chegar a este ponto: em termos de imagem externa do país, isso é muito bom, tanto para o turismo como para todos os demais”, referiu o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, citado no mesmo comunicado.

O director-geral da OMS estará no arquipélago até sábado, dia em que participará, na Assembleia Nacional, na sessão solene de comemoração do Dia de Liberdade e Democracia, que marca os 33 anos das primeiras eleições multipartidárias.

Impacto turístico

Em termos turísticos, principal fonte de receita do arquipélago (correspondendo a cerca de 25% do PIB), a certificação vai permitir que “os viajantes provenientes de regiões não endémicas de malária podem agora viajar para as ilhas de Cabo Verde sem receio de infecções locais” e sem necessitar “da potencial inconveniência das medidas de tratamento preventivo”, diz o comunicado da OMS.

“Isto tem o potencial de atrair mais visitantes e impulsionar as actividades socioeconómicas num país onde o turismo representa aproximadamente 25% do PIB”, acrescentou.

Antes da década de 1950, todas as ilhas de Cabo Verde eram afectadas por malária: epidemias graves ocorriam regularmente nas zonas mais densamente povoadas até haver pulverizações que a eliminaram em 1967 e 1983.

Contudo, o paludismo haveria de regressar depois devido a falhas no controlo da doença. No entanto, desde o último pico de casos no final da década de 1980, a malária em Cabo Verde esteve confinada a duas ilhas: Santiago e Boa Vista, que estão agora livres de malária desde 2017.

“O feito de Cabo Verde é um farol de esperança para a região africana e não só”, afirmou Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África.

Entre os países de língua oficial portuguesa, Moçambique e Angola estão entre os cinco mais afectados do mundo, de acordo com o último relatório anual sobre malária publicado pela OMS.

A organização anunciou há duas semanas que a vacina contra a malária R21 vai entrar na sua lista de "vacinas pré-qualificadas", um requisito para entrar nos programas de distribuição de organizações humanitárias como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) ou a GAVI Vaccine Alliance.

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