Vídeo mostra centenas de pessoas a fazer saudação fascista em Roma. Oposição pede respostas

Concentração à porta do antigo MSI, formado por apoiantes de Mussolini no pós-Guerra, recorda o assassinato de jovens militantes. Irmãos de Itália, que hoje governa o país, surge do partido extinto.

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A Constituição italiana proíbe as manifestações de ideologia e propaganda fascistas EPA/RICCARDO ANTIMIANI
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O vídeo mostra centenas de pessoas, organizadas em filas, a fazerem e repetirem a saudação fascista enquanto gritam “presente”. O mote inicial, “por todos os camaradas mortos”, é um cântico comum dos movimentos neofascistas. A cena do passado domingo deriva do encontro anual em Roma que recorda o assassinato de três jovens militantes do antigo partido Movimento Social Italiano (MSI). Embora ninguém tenha sido condenado, dois dos membros foram alegadamente mortos por militantes de esquerda, enquanto o terceiro terá sido morto pela polícia durante um motim. As três mortes aconteceram a 7 de Janeiro de 1978.

Após a ampla divulgação na Internet, os líderes da oposição italiana apelaram ao Governo de Giorgia Meloni para que tomasse medidas em concreto. “O que aconteceu não é aceitável. As organizações neofascistas devem ser dissolvidas, como diz a Constituição”, escreveu Elly Schlein, do partido Democrata, no Facebook. “Roma, 7 de Janeiro de 2024. Parece que foi em 1924”, acrescentou a líder do centro-esquerda italiano​. Foi em 1924 que o regime fascista de Benito Mussolini ganhou as eleições gerais, às quais se seguiu a extinção do sistema multipartidário italiano. Já o partido Movimento 5 Estrelas afirmou que vai apresentar uma queixa ao Ministério Público por “apologia do fascismo”.

Embora a reorganização de partidos fascistas tenha sido proibida pela Constituição italiana, no pós-Segunda Guerra Mundial, grupos neofascistas como o MSI mostraram que era possível contornar a regra. Fundado por Giorgio Almirante, antigo ministro do Governo de Mussolini,​ o MSI apresentava-se como um partido novo, mesmo que as maiores mudanças fossem o novo nome e a afirmação enquanto nova força política. Como descendente do partido dissolvido em 1995, surgiu o partido Irmãos de Itália, fundado por Giorgia Meloni, no poder desde Outubro de 2022. A Constituição também impede as manifestações de ideologia e propaganda fascistas.

E mesmo que Meloni se tenha tentado distanciar das origens fascistas durante a campanha eleitoral, o logótipo do novo partido persiste na chama tricolor — a verde, branco e vermelho, as cores da bandeira — já usada pelo antigo MSI. Em resposta à mais recente polémica, Fabio Rampelli, vice-presidente da Câmara dos Deputados e membro dos Irmãos de Itália, declarou o total desconhecimento do partido sobre a manifestação neofascista. Já Antonio Tajani, ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, condenou qualquer celebração da ditadura.

Desde que venceu as eleições em Itália, em Setembro de 2022, o executivo de Giorgia Meloni tem estado envolvido em vários casos relacionados com a extrema-direita. Entre as polémicas do passado sobressaem a fotografia de Galeazzo Bignami, vestido com uma braçadeira de suástica nazi. Mesmo que antiga, a fotografia ganhou maior visibilidade aquando da sua nomeação como vice-ministro das Infra-estruturas e dos Transportes​, em 2022. Outra controversa nomeação foi a de Ignazio La Russa, actual presidente do Senado italiano. Ignazio é filho de um secretário do partido fascista de Mussolini.

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