Meloni tentou enterrar o tema fascismo na campanha mas o partido não deixou

Membro dos Irmãos de Itália, partido que deverá vencer as eleições de domingo, fez a saudação romana num funeral.

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Meloni num comício em Milão Reuters/FLAVIO LO SCALZO

Um dia depois de Giorgia Meloni ter trazido de volta à campanha a “questão do fascismo”, como se referem ao tema os jornalistas italianos, o vídeo de um funeral em que um conhecido membro do seu partido faz a saudação romana provocou polémica, com os partidos do centro-esquerda a exigirem explicações à dirigente mais bem colocada para chefiar o Governo em Itália depois das eleições de domingo. Meloni tentou enterrar de vez a questão, as imagens de Romano La Russa não deixaram.

“Estava na Aliança Nacional quando Fini disse que o fascismo é o mal absoluto e parece-me que não me desassociei”, afirmou a líder dos Irmãos de Itália (FdL), em resposta a uma pergunta no canal de notícias da RAI. Meloni já disse tudo e o seu contrário sobre Mussolini, mas quando está prestes a vencer as eleições à frente da coligação de direita e extrema-direita, modera cada vez mais o seu discurso. A dirigente fundou o FdL há dez anos, quando a Aliança Nacional (herdeira dos neofascistas do Movimento Social Italiano), liderada por Gianfranco Fini se dissolveu no Povo da Liberdade, de Silvio Berlusconi.

Recusando o rótulo de pós-fascista com que o seu partido é descrito, Meloni já tinha afirmado antes da campanha que no seu partido não há lugar para “nostálgicos do fascismo”, mas sabe que muitos dos seus membros são apologistas do fascismo e nunca considerou a possibilidade de abandonar o emblema adoptado pelo FdI a partir do MSI, a chama tricolor.

De acordo com a imprensa italiana, Meloni tinha instruído as direcções regionais do FdL a alertarem os membros para evitarem mencionar a ideologia fascista e para não fazerem em público a “saudação romana”, usada pelos seguidores do ditador italiano.

O funeral de Alberto Stabilini, conhecido militante de extrema-direita e amigo próximo de La Russa, realizou-se no dia 19, mas as fotografias da saudação só surgiram nesta quarta-feira. “Quem quiser confundir o rito do presente com a saudação fascista ignora uma tradição militar que existe há séculos”, disse La Russa em sua defesa. O Partido Democrático, a principal formação do centro-esquerda, que surge em segundo lugar nas sondagens, atrás do FdI, fala num “rito com uma clara matriz neofascista” e denunciou “um facto gravíssimo”. Já a direcção do Movimento 5 Estrelas exige a “intervenção imediata” de Meloni, mas a candidata preferiu aproveitar o dia para falar de outros temas, como “a emergência da usura”, evitando o tema.

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