Biotecnológica portuguesa CellmAbs vende terapias contra o cancro à alemã BioNTech

Para os accionistas da empresa, o acordo pode ser o primeiro na área das ciências da vida em Portugal a passar os mil milhões de euros, considrando a expectativa de receitas comerciais substanciais.

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Células de cancro da mama Instituto Lundquist
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A empresa de biotecnologia portuguesa CellmAbs vendeu à alemã BioNTech um conjunto de terapias inovadoras para o tratamento do cancro, que poderão permitir o desenvolvimento de um novo medicamento contra a doença, anunciou a empresa.

Esta transacção inclui a venda de tecnologia incluída em patentes já submetidas internacionalmente, o que permitirá que a BioNTech possa continuar a desenvolver “um dos candidatos em fase pré-clínica da CellmAbs, explicou o CEO da CellmAbs, Nuno Prego Ramos, em resposta à agência Lusa por correio electrónico.

Nos termos do “acordo de atribuição de patentes e licenciamento”, a BioNTech – que desenvolveu uma das vacinas contra a covid-19 com base na tecnologia de ARN-mensageiro (mRNA) – adquiriu igualmente a “tecnologia adicional ADC (antibody-drug conjugate)”. Estes conjugados de droga-anticorpos são anticorpos monoclonais (mAbs, na sigla em inglês) que têm ligada quimicamente uma droga citotóxica (com efeito tóxico sobre determinadas células).

“Este é o maior acordo de sempre no campo da biotecnologia e ciências da vida com uma empresa portuguesa e o mais relevante nesta área por poder resultar no primeiro medicamento português inovador para a oncologia a ir para o mercado”, indicou o co-fundador da empresa e um dos responsáveis pela investigação.

Criada em 2019 e ligada à Universidade Nova de Lisboa, a empresa portuguesa tem trabalhado na investigação e desenvolvimento de terapias baseadas em anticorpos monoclonais específicos para o cancro, dedicando-se a alemã à imunoterapia de próxima geração, pioneira em terapias inovadoras para o cancro e outras doenças graves.

“As conquistas da CellmAbs são evidência de uma execução estratégica e gestão de recursos eficaz, aliadas ao nosso compromisso com a descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos”, sublinhou Nuno Prego Ramos, considerando que tal facto realça igualmente o potencial das empresas biotecnológicas portuguesas em liderar a inovação médica a nível mundial”.

No âmbito do negócio, a CellmAbs receberá um pagamento inicial e pagamentos de curto prazo, “podendo receber centenas de milhões de euros de acordo com as fases de desenvolvimento alcançadas”, estando ainda previsto o pagamento de royalties escalonados na fase comercial”.

Para os accionistas da empresa, o acordo poderá ser “o primeiro no sector das ciências da vida em Portugal a ultrapassar a barreira dos mil milhões de euros, considerando a expectativa de substanciais receitas comerciais”.

Nova empresa biotecnologia na calha

Segundo Nuno Prego Ramos, após esta transacção, a CellmAbs acabará, mas os fundadores estão já “a lançar as bases para uma nova empresa biotecnológica”. “Estamos muito satisfeitos pela validação da nossa abordagem direccionada a alvos específicos do cancro e estamos ainda mais entusiasmados em avançar com o desenvolvimento de novos tratamentos inovadores para a oncologia e longevidade”, adiantou Nuno Prego Ramos.

Criar anticorpos monoclonais (​mAbs) específicos para células cancerosas sem afectar as células saudáveis representa um avanço fundamental, pois permite tratamentos que atacam a doença de forma mais eficaz e com menos efeitos colaterais, além de serem personalizados, ou seja, adaptados às características individuais do cancro em cada paciente.

“Estas terapias, que se mostraram eficazes em mais de 80% dos tumores sólidos, poderão ser adaptadas a vários estádios do tumor; asseguram uma menor toxicidade e um menor risco de quimiorresistência, melhorando a tolerância e a qualidade de vida do paciente; e, ainda, contribuem para impedir a progressão e evasão do tumor”, precisou Nuno Prego Ramos.

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