Antonino Solmer (1950-2024): um mestre de actores

O actor, encenador e professor de teatro Antonino Solmer morreu esta quinta-feira aos 73 anos. Director do Teatro da Trindade e sub-director do D. Maria II, formou toda uma geraçao de actores.

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Antonino Solmer numa fotografia divulgada pelo São Luiz na sua rede social Facebook José Frade/EGEAC

O actor, encenador, escritor e professor de teatro Antonino Solmer, nome artístico e literário de Antonino Proença Marques, morreu esta quinta-feira à noite, aos 73 anos, informou o seu filho Tiago Cardiff nas redes sociais.

Director do Teatro da Trindade em meados dos anos 90, e subdirector do Teatro Nacional D. Maria II entre 1998 e 2000, manteve uma longa carreira como professor de teatro, tendo sido "mestre de uma geração de actores portugueses, que começaram no teatro pela sua mão", assinalava esta sexta-feira o Teatro São Luiz numa nota de pesar pela sua morte.

Nascido em Lisboa em 1950, Antonino Solmer começou por fazer estudos comerciais, mas logo em 1967, aos 17 anos, estreou-se como actor amador na Promotora Estúdio Teatro. Frequentou depois um curso de iniciação ao teatro na Cooperativa Palco e foi já como profissional que integrou, em 1969, o elenco de uma encenação de O Lugre, de Bernardo Santareno, pela Companhia de Teatro Popular, então sediada na Estufa Fria, em Lisboa. Entrou em várias outras peças antes do 25 de Abril de 1974, e mesmo no período em que foi mobilizado para a guerra colonial em Angola manteve a ligação ao teatro, trabalhando com grupos amadores.

Regressado a Lisboa, formou-se no curso de Actores-Encenadores da Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) de Lisboa, sucessora do antigo Conservatório Nacional, onde ele próprio seria depois professor, e prosseguiu estudos na Polónia, frequentando as escolas superiores de Varsóvia e Cracóvia e estagiando, em 1978, com o influente encenador, dramaturgo e teórico teatral Józef Szajna, sobrevivente de Auschwitz e Buchenwald.

Foi director da Companhia Rafael de Oliveira, que veio a dissolver-se em 1975, e ingressou em 1976 na companhia Os Cómicos, onde encenou, com o título Memória Com Objectos, uma versão para palco do romance Retrato de Um Amigo Enquanto Falo, da escritora Eduarda Dionísio (1946-2023), com quem fundou o Contra-Regra Centro de Actividades Culturais e de Produção de Espectáculos, e co-escreveu a comédia Dou-Che-Lo Vivo, Dou-Che-Lo Morto, a partir de textos clássicos em língua portuguesa, que se estrearia em 1981, numa produção do Teatro da Cornucópia.

A par do teatro fez cinema e televisão, entrando em filmes como O Príncipe com Orelhas de Burro, de António de Macedo, e O Processo do Rei, de João Mário Grilo, e em produções como o telefilme Um Jeep em Segunda Mão, de Jaime Campos, a telenovela Terra Mãe, da RTP, ou a série A Tragédia da Rua das Flores, versão televisiva do romance de Eça de Queiroz, que co-protagonizou com Lourdes Norberto.

Como encenador, dirigiu textos dos principais autores da história do Teatro, das tragédias gregas à expressão contemporânea, incluindo dramaturgos como Federico García Lorca, August Strindberg ou Henrik Ibsen, muitos deles com os seus alunos da ESTC.

É responsável pela montagem do primeiro texto de Arthur Schnitzler em Portugal, com a encenação de Dança de Roda, para a companhia Contra-Regra, em 1983. Dirigiu ainda espectáculos de músicos como Sérgio Godinho e Emilio Cao.

Deve-se-lhe ainda, lembra a editora Afrontamento num texto de homenagem publicado no Facebook, a coordenação de um essencial e muito reeditado Manual de Teatro, cuja publicação original saiu em 1999 nos Cadernos Contra-Cena, do Instituto Português de Artes do Espectáculo. Além dos muitos textos dedicados ao teatro que deixou dispersos, publicou ainda vários livros, incluindo um oportuno SMSs publicado em plena pandemia, em 2021, e que se apresenta como "um livro perfeito para o tempo que vivemos, com as garantias de distância social, higiene, brevidade e eficácia na entrega da mensagem". ​"Escrevo poesia ou 'coisa parecida' desde que me conheço", declara num breve apontamento autobiográfico citado pela livraria online Wook.

A nota do Teatro São Luiz destaca ainda a sua dimensão humana: "Dele lembramos a suavidade e gentileza com que tratava todos à sua volta".

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