Emissões de CO2 da Alemanha desceram para níveis de 1950, mas há desafios

Aposta nas renováveis e quebra do uso de carvão fizeram descer as emissões de dióxido de carbono ao nível de há 70 anos. Mas política climática não é sustentável, avisa relatório de think tank.

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Turbinas eólicas em Biegen, no Nordeste da Alemanha LISI NIESNER/Reuters

As emissões de dióxido de carbono (CO2) da Alemanha em 2023 caíram para o nível mais baixo desde a década de 1950, devido à diminuição do uso de carvão para a electricidade e à menor produção de indústrias que usam muita energia. Mas o declínio é insustentável sem alterações na política climática, segundo um estudo divulgado nesta quinta-feira.

Até 2030, a Alemanha planeia reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em 65%, comparando com os níveis de 1990, um passo para se tornar neutra ao nível das emissões de carbono até 2045.

As emissões de CO2 na maior economia da Europa caíram no ano passado para 673 milhões de toneladas, o nível mais baixo desde a década de 1950, 46% menos do que em 1990 e superando o objectivo climático do Governo para 2023, de 722 milhões de toneladas, segundo um estudo produzido pelo Agora Energiewende, um think tank com sede em Berlim.

Impulsionada por um aumento da produção interna de energias renováveis, que tem agora uma quota de mais de 50%, e por um aumento da electricidade importada, a produção de electricidade a partir do carvão caiu para o nível mais baixo desde a década de 1960 e contribuiu para a poupança de 44 milhões de toneladas de CO2, segundo o estudo.

Embora a Alemanha tenha como objectivo eliminar progressivamente o uso de carvão até 2038, o ministro da Economia, Robert Habeck, tem defendido o fim do carvão para mais cedo, até 2030, uma data que já foi acordada nos estados alemães ocidentais, mas que é alvo de resistência na cintura de produção de lenhite, que fica no Leste do país.

Desafios futuros

Já as emissões da indústria atingiram os objectivos do Governo, diminuindo 12% em relação a 2022, para 144 milhões de toneladas de CO2, na sequência de uma queda de 11% no sector de produção que requer muita energia, adiantou o estudo, avisando que essa queda poderia não continuar este ano com a recuperação daquele sector.

Os fabricantes de produtos que necessitam de muita energia reduziram a produção no ano passado. Esta diminuição deveu-se ao aumento dos preços do gás na Europa, após o fornecimento de gás canalizado russo ter sido substituído pela importação de gás natural liquefeito, na sequência da invasão da Ucrânia por Moscovo. “As consequências da crise da energia fóssil e do abrandamento da economia são particularmente evidentes nas emissões de CO2 das indústrias que utilizam muita energia”, afirmou Simon Mueller, director do Agora Energiewende, em comunicado.

Apesar da descida global, os sectores dos transportes e dos edifícios, que nos últimos anos não cumpriram os objectivos governamentais em matéria de emissões, também não atingiram os seus objectivos para 2023. O aquecimento dos edifícios foi o que contribuiu mais em termos de emissões. Embora os edifícios tenham contribuído para a emissão de 109 milhões de toneladas de CO2 em 2023, o que representou uma redução de 2,7% em relação ao ano anterior, o valor ficou acima do objectivo alemão de 101 milhões de toneladas.

Uma lei introduzida no ano passado para incentivar a energia verde e o aquecimento colectivo deverá ser rapidamente implementada para colocar o sector no caminho certo para 2030, acrescentou Mueller.

No sector dos transportes, as emissões de CO2 diminuíram 2% em relação a 2022, para 145 milhões de toneladas, não atingindo o objectivo das 133 milhões de toneladas. A quota de mercado dos automóveis eléctricos estagnou nos 20%, revela o estudo, o que sugere a necessidade de reformas nos subsídios fiscais e uma expansão dos transportes públicos para se atingir o objectivo.

O estudo referiu que, para atingir os objectivos de CO2 para 2030, é ainda necessário financiamento governamental. Isso tornou-se significativamente mais difícil após um acórdão do Tribunal Constitucional que, no ano passado, suspendeu o uso de cerca de 60 mil milhões de euros de nova dívida, que não tinha sido previamente utilizada, e estava destinada para projectos climáticos. “Uma combinação inteligente de instrumentos pode garantir uma maior protecção do clima por cada euro do tesouro público”, acrescentou Mueller.

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