José Cardoso desfilia-se da IL e admite criar um novo projecto político

Um dos rostos da oposição à liderança de Rui Rocha bateu com a porta. Diz que já não se revê na IL e espera ser “catalisador” para encontrar um projecto onde os princípios liberais sejam respeitados.

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José Cardoso foi candidato à liderança da Iniciativa Liberal há um ano Nuno Ferreira Santos

O liberal José Cardoso, que em Janeiro disputou a liderança da Iniciativa Liberal, desfiliou-se do partido com críticas à direcção de Rui Rocha, que acusa de ser “centralista” e de “não respeitar os princípios liberais", engrossando a lista de demissões que têm vindo a ocorrer nos últimos tempos na IL.

Afirmando que já não se revê no partido ao qual aderiu em 2019, José Cardoso, que foi conselheiro nacional, está a ponderar formar um novo projecto político. “Admito formar um partido novo que tenha estatutos liberais. Sou liberal e esse é o meu espaço. A mim, importa-me um partido liberal, liberal social, mas acima de tudo que tenha uma prática liberal. Para viver em ditadura, inscrevia-me no PCP”, declarou ao PÚBLICO José Cardoso nesta quarta-feira, adiantando que, a partir de agora, vai falar com ex-membros da IL que entretanto saíram e também com outras pessoas, para tentar perceber quais são as orientações e que projecto pode estar em cima da mesa.

Num comunicado que enviou nesta quarta-feira aos membros do partido, José Cardoso explica as razões da sua desfiliação, afirmando que não pode dar cobertura a uma organização que tenta impedir os seus membros de decidir o seu futuro e que não respeita os seus princípios”. E é neste contexto que admite vir a fazer parte de um novo projecto político. “Os liberais não estão obrigados a estar num partido assim. Espero ser catalisador para encontrar a forma de participação partidária num projecto em que os princípios liberais sejam respeitados", lê-se no comunicado.

“Na convenção estatutária de 2020, depois de assistir nessa data à centralização de tudo no partido, disse aos membros mais próximos que ficaria até à seguinte convenção estatutária para saber de forma inequívoca se a IL pretendia ser um partido liberal”, afirma, acrescentando: “Os últimos desenvolvimentos confirmam o que eu temia." Em causa está o adiamento da convenção prevista para o final do ano passado: "Patrocinado pelo presidente do conselho nacional e pela comissão executiva, foi feito o adiamento da convenção e está montada a fraude para impedir alterações na convenção estatutária de Julho."

José Cardoso, que há um ano disputou a liderança do partido com Rui Rocha e Carla Castro, já não espera mais para ver: “Não posso dar cobertura a uma organização que tenta impedir os seus membros de decidir o seu futuro e que não respeita os seus princípios, ainda recentemente revistos, ao atropelar os princípios mais básicos democráticos, como seja a separação de poderes e o direito à liberdade de expressão, ao impedir a existência de canais de comunicação interna entre os membros", frisa, referindo que na IL cumpriu aquilo que um liberal deve fazer como prioritário, que "é lutar pela liberdade". "Lutei pela minha [liberdade] e pela dos outros, sem espaço a cedências de qualquer género."

Ao PÚBLICO, o ex-conselheiro nacional revela que a desfiliação do partido “é uma decisão muito sólida e não um mero impulso” e reafirma a sua oposição à forma de funcionamento do partido que — frisa — “impede totalmente a possibilidade de se pôr em prática ideias liberais. O partido é tão centralista, tão centralista, tão centralista que é impossível estar num partido assim”.

“Esta casa já não me representa, já não é uma questão de combate político. Não há ninguém mais resiliente na IL do que eu, agora não posso viver em ditadura e aceitá-la. Já sobrevivi três anos ao conselho nacional em silêncio porque achava que o partido e o país eram maiores do que eu e o que eles [direcção] andaram a fazer enquanto eu lutava por um partido que atinasse em relação àquilo que eram as regras básicas democráticas foi denegrir a minha imagem”, declarou.

Notícia actualizada às 11h10 do dia 3 de Janeiro de 2024 com mais declarações de José Cardoso.

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