Depois de o cão ter morrido, Steve adopta todos os cães idosos que encontra

Wolfgang morreu atropelado em 2012 e, na tentativa de superar a perda, o dono adoptou o cão mais velho que estava numa associação. Mais de dez anos depois, tem 11 cães idosos em casa.

Foto
Steve Greig adoptou dezenas de cães idosos nos últimos dez anos @wolfgang2242
Ouça este artigo
00:00
07:02

Steve Greig foi dominado pela dor quando Wolfgang, o seu cão de 12 anos, foi atropelado por um carro. “Fazia tudo com ele. Éramos muito ligados”, recorda.

Meses depois da morte de Wolfgang, em 2012, Steve ainda não conseguia aceitar a perda. Sentia-se desamparado. “Não estava a reagir muito bem. Decidi ir a um abrigo para animais e adoptar um cão que provavelmente ia ser abatido”, explica o homem de 59 anos.

Os cães mais velhos são muitas vezes deixados para trás nas associações, vistos como menos desejáveis pelos potenciais adoptantes, e, normalmente, são os primeiros a ser eutanasiados se não tiverem um novo dono rapidamente. Steve pensou que, de certa forma, adoptar um animal idoso “daria um propósito à morte de Wolfgang; ele morreu, mas outro cão conseguiu viver por causa disso”.

Levou o cão mais velho do abrigo para casa, um chihuahua chamado Eeyore que tinha problemas nos joelhos e um sopro no coração. “A cura foi imediata”, garante Steve, que, sem contar com os animais de companhia, vive sozinho. “Percebi que era exactamente o que precisava de fazer.”

O dono e o cão passaram seis anos juntos, e Eeyore viveu até os 19 anos. Três meses depois de o resgatar, adoptou outro cão idoso — e depois outro e mais outro. “Começou tudo a partir daí”, conta.

Durante mais de uma década, a casa de Steve, na cidade norte-americana de Denver, tem sido constantemente habitada por cães idosos. Costuma ter cerca de nove, mas neste momento tem 11.

“Quando um deles morre, normalmente adopto outro para o homenagear”, diz, acrescentando que já acolheu dezenas de cães deficientes e idosos ao longo dos anos na esperança de lhes proporcionar a experiência de fim de vida mais feliz possível. Também dorme com pelo menos sete na cama de casal. E, às vezes, ainda há espaço para mais alguns.

“Estar na cama com todos estes cães quentes é a melhor coisa do mundo”, garante o contabilista que se reformou recentemente.

A casa de Steve, no centro de Denver, tem um grande quintal, e fica numa área onde existem excepções para quem tem animais de companhia, o que lhe permite ter mais de três cães — que, normalmente, é o número máximo permitido numa casa naquela cidade. Também resgatou um porco de 13 anos chamado Bikini, quatro galinhas, dois coelhos, um pato e um peru.

“Acabei por tropeçar neles”, explica. Conheceu o antigo proprietário de Bikini numa troca de galinhas e soube que estava a tentar livrar-se do porco. Steve salvou-o de ir parar a uma quinta de porcos e, assegura, todos os animais se dão bem. “Há uma espécie de mentalidade de matilha”, completa. Além disso, afirma, “são mais velhos, por isso são mais calmos”.

Regra geral, tenta limitar-se a ter nove cães de cada vez porque é um número mais fácil de gerir, mas abre excepções se um animal idoso precisar desesperadamente de um lar. Normalmente, os animais vivem com ele durante cerca de três anos até morrerem, mas o tempo depende do estado e da idade de cada um. Por vezes, acolhe cães em fim de vida, mesmo sabendo que não vão ficar com ele durante muito tempo.

“Sabemos que o nosso tempo é limitado e, por isso, tiramos partido disso.” No entanto, diz que o coração se parte um pouco cada vez que um dos animais morre. “Lembro-me de que o que importa é o cão e não a minha dor. Eles tiveram o melhor fim de vida possível e isso faz-nos realmente sentir melhor.”

A actual matilha inclui, por ordem de quem dorme mais perto do dono: Onion, Maytag, Mr. Magoo, Fernando, Willamena, Cat, Juanita, Chalmer, Raylene, Festus e Loretta. Raylene, de oito anos, é a mais nova, e Loretta, de 19, é a mais velha. A designação “idoso” depende da raça; os cães mais pequenos são considerados idosos entre os dez e os 12 anos e os de raça grande entre os seis e os sete anos.

Muitos têm doenças cardíacas, incontinência, cegueira e outros problemas de saúde. Alguns exigem poucos cuidados e são meigos, enquanto outros são um pouco mais atrevidos e carentes.

“Tem sido bom ter todas estas personalidades diferentes a entrar na minha vida”, garante, explicando que atribuiu um novo nome à maioria dos cães que adopta. “Uma vez li que os cães não associam os nomes a eles próprios, associam-nos a nós. Por isso, não é confuso para eles se lhes mudarmos o nome.” E também tem uma rotina para acompanhar os respectivos horários de cada animal, o que envolve dar medicação e horas para os alimentar.

Foto
Os cães de Steve @wolfgang2242

“Quando tudo está a correr bem e estamos numa rotina, funciona perfeitamente”, assegura. Por exemplo, um dos cães é diabético e tem de comer e tomar insulina de 12 em 12 horas. Mas, ainda assim, garante que cuidar de vários cães idosos dá menos trabalho do que se pensa. Fazem muitas actividades de conjunto — como noites de cinema e passeios de carro — para entreter os animais.

“Depois tento fazer coisas individuais com eles, para que cada um tenha o seu tempo”, explica Steve, que narra o dia-a-dia a cuidar de cães idosos no Instagram, e conta com mais de um milhão de seguidores. “Acho que o que atrai as pessoas é o facto de gostarem de tomar partido pelos desfavorecidos”, defende.

Steve espera que o que faz encoraje outros a pensarem na possibilidade de abrirem a porta de casa e o coração a um animal de companhia idoso cuja vida será provavelmente interrompida se não o fizerem.

“Quando se adopta um animal de estimação idoso, apaixonamo-nos por ele”, afirma, acrescentando que, ao longo dos anos, muitas pessoas lhe disseram que se tinham inspirado nele para adoptar cães mais velhos ou cãezinhos com problemas de saúde.

Em 2019, o ex-contabilista fez uma parceria com a autora Mary Rand Hess para publicar um livro infantil The One and Only Wolfgang (O Primeiro e Único Wolfgang, em tradução literal), que conta a história de um homem que acolhe animais considerados “não-adoptáveis”.

Foto
Steve com o cão Wolfgang que morreu em 2012 @WOLFGANG2242
Foto
Alguns dos cães de Steve dormem na cama do dono @wolfgang2242

“Queria transmitir a mensagem às crianças de que o velho é tão bom como o novo se tivermos alguém que nos ame”, explica. E desde que a conta de Instagram se tornou conhecida na comunidade de resgate de animais, as associações de protecção animal contactam-no com fotografias de cães que precisam de um lar.

“Ele é espantoso”, diz Lisa Letson, fundadora da True & Faithful Pet Rescue Mission em Venice, na Florida, uma associação que resgata cães idosos e menos desejados de abrigos para não serem abatidos. Todos os anos, a organização salva entre 600 e 700 animais. “Eles têm tanto amor para dar e eu encorajo sempre as pessoas a adoptarem um cão idoso. Eles tornam a nossa vida melhor.”

Há alguns meses, Lisa resgatou um pinscher miniatura que era vadio em Miami e se refugiava frequentemente numa lavandaria local. O cão tem entre dez e 15 anos. “Ninguém o queria. Telefonei ao Steve e disse-lhe: ‘Consegues arranjar espaço para mais um?’”

“Não podia dizer que não”, respondeu Steve, que decidiu chamar Maytag ao novo cão — em homenagem à empresa de electrodomésticos que fabrica máquinas de lavar roupa e que tem uma frase publicitária apropriada: “O que está dentro importa.”

“Vê-los felizes, mesmo que por um curto período de tempo, deixa-me feliz.”


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

Sugerir correcção
Comentar