Moradores foram realojados, mas câmara ainda desconhece futuro de ilha das Fontainhas

Câmara do Porto anunciou que ia comprar o Bairro dos Moinhos após este ter sido afectado pelas cheias de Janeiro. Foram realojadas 16 famílias em casas municipais. Destino da ilha está em aberto.

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Em Janeiro, por força da chuva intensa, a água inundou as casas do Bairro dos Moinhos Paulo Pimenta/Arquivo
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Quase um ano depois do impacto das cheias, as famílias que ainda habitavam no Bairro dos Moinhos, uma ilha portuense das Fontainhas, foram realojadas em habitação municipal. Em Janeiro, a água da chuva pressionou uma ribeira entubada das imediações e o conjunto habitacional do Bonfim foi afectado, tornando-o inabitável. Os moradores ficaram desde essa altura à espera de uma solução. Após as inundações, a Câmara Municipal do Porto avançou que ia comprar as casas. O processo da compra está em curso, mas o destino que será dado ao terreno e às habitações ainda está em aberto.

Com as primeiras intempéries do passado Inverno, a chuva voltou (e continua) a entrar na casa que até há bem pouco tempo ainda era arrendada pela família de Herculano Sandiares. O mesmo acontece nas habitações vizinhas. Mas desde há um mês que a água não é um problema para o homem de 60 anos, que viveu no Bairro dos Moinhos durante 18 anos. E só não é um problema porque teve de mudar de casa.

Não viveu sempre na mesma ilha, mas sempre morou no radar de São Victor, zona onde está o bairro. E em Outubro recebeu da autarquia a chave da “casa nova” que, ao mesmo tempo, também foi o passaporte para se mudar para outra freguesia. Agora vive na Ribeira - foi do Bonfim para o Centro Histórico. Não foi para muito longe. Mas diz que os vizinhos foram distribuídos por bairros camarários do município. Ainda assim, Herculano preferia ter ficado em São Victor. Inegável, afirma, é que está numa situação melhor. “Não entra chuva cá dentro”, diz ao PÚBLICO por telefone.

Quando soube que Rui Moreira tinha anunciado, na sequência das cheias, que a autarquia iria comprar o bairro, pensou que uma das hipóteses para o futuro da ilha poderia passar pela reabilitação das casas que, desde há décadas, são muitas vezes afectadas sempre que a chuva cai de forma mais intensa. “Nunca ninguém nos disse nada”, afirma, referindo-se à câmara. O bairro situado nas Fontainhas é mais um dos que está em vias de ficar despido de pessoas, numa zona onde até há pouco tempo morava o coração do Porto mais típico e tradicional mas de há um tempo para cá com mais arritmias.

Ao PÚBLICO, o gabinete de comunicação da Câmara do Porto confirma a mesma informação que já tinha adiantado à Lusa. Dezasseis das 18 famílias que ainda moravam na ilha mudaram-se para habitação camarária, fruto de um processo que começou há mais de dois meses. Uma das duas famílias que não foram contempladas tinha outra habitação. O outro agregado “prescindiu” de casa municipal.

Aquisição em curso

Ficando o bairro vazio - ainda falta sair uma família - as casas serão “desentelhadas”. O objectivo é que as habitações, que até agora serviam para serem arrendadas, não sejam ocupadas depois de ficarem livres “por não existirem condições” para o efeito, adianta a câmara. Só que, primeiro, é preciso que o negócio seja concluído. Até lá, a autarquia não pode intervir no conjunto habitacional. O processo de aquisição, avança a câmara, está em curso.

No início do ano, quando Rui Moreira anunciou que o Bairro dos Moinhos seria comprado pelo município, ficou no ar que um dos objectivos poderia passar pela reabilitação de algumas habitações mas, para isso, era preciso, primeiro, fazer um estudo de viabilidade. “Primeiro temos de ver se conseguimos comprar [as casas]. Depois temos de perceber quais são aquelas zonas que consideramos serem edificáveis, em que podemos construir de novo ou reabilitar, e quais devem ser demolidas. Mas é muito cedo para fazermos um levantamento destes num território que não é municipal e que ainda não conhecemos em detalhe”, afirmava o autarca a 13 de Janeiro.

O presidente da câmara do Porto também já tinha deixado outros cenários em aberto - um dos possíveis passava por “rever todo o sistema hidráulico do bairro” e, eventualmente, criar-se naquela área “uma bacia de retenção” para resolver o problema das enxurradas da zona. Nesta terça-feira, o gabinete de comunicação da Câmara Municipal do Porto afirma ao PÚBLICO que ainda não há uma decisão definitiva para o futuro dos terrenos e das habitações do Bairro dos Moinhos. Por agora, adianta a mesma fonte, a prioridade é concluir o processo de aquisição do conjunto habitacional situado nas Fontainhas.

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