Antigo diplomata norte-americano foi espião ao serviço de Cuba durante 40 anos

Victor Manuel Rocha chegou a cargos de topo na diplomacia norte-americana para ter acesso a informação confidencial que partilhou com o regime cubano.

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Bandeiras de Cuba e dos Estados Unidos Reuters/ALEXANDRE MENEGHINI
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Durante décadas, o antigo diplomata norte-americano Victor Manuel Rocha passou despercebido, como um espião exemplar. Podia ter sido a carreira perfeita, mas um passo em falso entregou-o ao FBI. Foi detido pela polícia federal dos Estados Unidos na passada sexta-feira, em Miami, acusado de alta traição. Terá estado desde a década de 1980 ao serviço de Cuba, contra "o inimigo": Washington.

“Alegamos que, durante mais de 40 anos, Victor Manuel Rocha serviu como agente do Governo cubano, tendo procurado e obtido cargos no Governo dos Estados Unidos que lhe davam acesso a informações confidenciais e a possibilidade de influenciar a política externa nacional”, afirmou esta segunda-feira, em declarações aos jornalistas, o procurador-geral Merrick Garland. O antigo diplomata, acrescenta, foi responsável por “uma das maiores e mais duradouras” operações de espionagem nos EUA por parte de um agente estrangeiro.

Victor Manuel Rocha nasceu na Bolívia e cresceu em Nova Iorque. Foi funcionário do Departamento de Estado norte-americano durante duas décadas, sob a Presidência de Bill Clinton e de George W. Bush. Representou Washington em vários países da América Central e do Sul — entre os quais Cuba, de 1995 a 1997. Mais recentemente, entre 2006 e 2012, foi conselheiro do comando militar norte-americano responsável por Cuba.

Um depoimento do agente especial do FBI Michael Haley ao tribunal federal de Miami, tornado público esta semana, detalha como, sem saber, Rocha fez a sua confissão à polícia federal: desde 1981 até ao presente, assumiu a “missão clandestina de recolha de informação contra os Estados Unidos” ao trabalhar como agente dos serviços secretos cubanos.

Em Novembro de 2022, para esclarecer suspeitas, um agente do FBI fez-se passar por representante dos serviços secretos cubanos (na sigla em espanhol, DGI) para se encontrar com Victor Manuel Rocha. Ganhou a confiança do antigo diplomata, questionou-o sobre com que manobras se manteve fora dos radares norte-americanos, sobre as ligações a Havana e a disponibilidade para continuar a servir Cuba.

“Para mim, o que foi feito deu força à Revolução”, admitiu perante o agente do FBI, num elogio ao seu próprio trabalho. Em vários encontros com a polícia federal, referiu-se a si mesmo e a Cuba como “nós” e aos Estados Unidos como “o inimigo”.

“Entre 1982 e 2015 e desde 2021 até ao presente, o Departamento de Estado dos EUA designou Cuba como um Estado que patrocina o terrorismo internacional”, lê-se na acusação. “Desde a ascensão de Fidel Castro ao poder que a República de Cuba vê os Estados Unidos como a sua principal ameaça, sendo que governantes cubanos se referiram aos Estados Unidos como um inimigo de Cuba.”

Ao longo da sua carreira, quando era chamado a apresentar-se às autoridades norte-americanas, Rocha garantiu estar consciente de que tinha acesso a informação confidencial que não podia revelar, sob risco de provocar “danos irreparáveis aos Estados Unidos”. Repetiu também nunca ter trabalhado para um Governo estrangeiro e nunca ter tido contactos com outros países que fossem além dos seus deveres.

A 1 de Dezembro deste ano, em declarações a dois agentes do Departamento de Estado norte-americano, mentiu sistematicamente quando confrontado com alegações de que estaria envolvido em actividades de espionagem. Foi detido no mesmo dia, aos 73 anos. Será ouvido pelo juiz do tribunal federal de Miami esta quarta-feira.

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