Palcos da semana: revoluções, sonhos e uma nêspera

Nos próximos dias, regressa Uma Nêspera no Cu. Mais a sério, estreiam-se criações de Aurora Negra e Sara Barros Leitão. Também temos Um Sonho e jazz em memória de Sassetti.

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João Melo e Margarida Carvalho dão vida a Guião para Um País Possível, de Sara Barros Leitão Teresa Pacheco Miranda
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Bruno Nogueira, Nuno Markl e Filipe Melo regressam aos palcos com Uma Nêspera no Cu Rui Gaudêncio
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Kevin Hays abre o segundo Festival de Jazz Bernardo Sassetti Dani Case
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O Colectivo Aurora Negra estreia A Missão da Missão Carla Cavalcante
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No São João, há Um Sonho em estreia Tuna
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Democracia aos papéis

Já reparou nas duas pessoas que estão sentadas numa secretária, no centro da Assembleia da República, viradas para os deputados? Sara Barros Leitão não só reparou nelas como criou um Guião para Um País Possível, a pensar nessa “ilha” onde se vai registando o que se passa no hemiciclo – “os discursos, as intervenções, os apartes, as insubordinações e até os gestos”, como sublinha a sinopse.

Desse volume incontável de relatos de “debates, assembleias constituintes, votações, avanços e recuos nos direitos sociais, laborais e humanos”, nasce esta reflexão sobre a democracia portuguesa, mesmo a tempo dos 50 anos do 25 de Abril.

É mais uma manifestação da Cassandra, a estrutura artística (também descrita como “espaço de resistência”) que a criadora fundou e pela qual já levou a palco Monólogo de Uma Mulher Chamada Maria com a sua Patroa, que concebeu e encarnou. Aqui, fica com os papéis de dramaturga e encenadora, entregando a interpretação aos actores João Melo e Margarida Carvalho. Depois da estreia em Viana do Castelo, a peça segue para uma longa digressão pelo país.

Até ao caroço

Quando a notícia surgiu no podcast de Bruno Nogueira Isso Não Se Diz, em amena cavaqueira com Nuno Markl e Filipe Melo, ficou estendido o rastilho que havia de estourar as bilheteiras. Vinha aí uma reactivação ao vivo de Uma Nêspera no Cu, a rubrica “webisódica” que fez culto com os seus dilemas inenarráveis e que já antes foi espremida para palco, incluindo numa versão musical.

Uma só data não chegava. Foi cabendo mais uma e outra na Nêspera, até serem cinco, entre Lisboa e Porto. O trio lá estará para agitar as almas sensíveis, constranger alegremente os convidados e despejar humor sem moderação, para consumir até ao caroço.

Por Sassetti, agora no Porto

No ano passado, Loulé assistiu ao nascimento de um festival organizado pela Casa Bernardo Sassetti, erguido em memória do músico de jazz que partiu demasiado cedo. Na nota de intenções vinha o desejo de ir percorrendo o país, ano a ano. O Porto foi a cidade escolhida para a segunda edição do Festival de Jazz Bernardo Sassetti.

À cabeça do cartaz vem Kevin Hays. O pianista e compositor norte-americano inaugura quatro dias pautados por concertos de Nomad Nenúfar (projecto de Bernardo Tinoco e Tom Maciel), da cantautora Yumi Ito, do pianista Filipe Raposo num cineconcerto, do saxofonista Ricardo Toscano e seu quarteto em torno da música de Sassetti, do pianista Carlos Azevedo (que além de se apresentar em quarteto, orienta um workshop) e, finalmente, de Neighbour Lizard, que junta Nelson Cascais, André Fernandes, João Lencastre e John O’Gallagher em improvisações.

Aurora Negra em missão

Está a chegar às tábuas “uma revolução feminina e negra de sete mulheres em ciclos constantes de esperança”. É assim que o colectivo Aurora Negra descreve a sua terceira missão teatral, depois do sucesso da peça homónima e de Cosmos, ambas apresentadas no D. Maria II.

Desta vez, o desafio veio do Teatro do Bairro Alto. Em causa está uma revisitação da peça A Missão, de Heiner Müller, que, às mãos de Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema, se transforma n’A Missão da Missão. Às criadoras juntam-se Ana Valentim, Aisha Noir, Rita Cruz e Romi Anuel. São elas as sete mulheres em palco.

Bravo num sonho

A nova produção do São João situa-se num plano onírico e simbólico. Imperam as vontades insondáveis do inconsciente humano. Espaço e tempo estão arredados. E, no entanto, há uma lógica que a atravessa. É que “para o sonhador não há segredos, escrúpulos, leis”, decretou August Strindberg na peça revolucionária que escreveu no início do século passado.

“A distorção de tempo e espaço é a alma do teatro”, completa Bruno Bravo, co-fundador e director artístico da companhia Primeiros Sintomas, citado na folha de sala. Foi a ele que o teatro dirigiu o desafio de encenar a peça do dramaturgo sueco. João Paulo Esteves da Silva, seu colaborador habitual, encarregou-se da tradução e dramaturgia.

Assim surgiu Um Sonho, um espectáculo para explorar “temas como a infelicidade, a falta de sentido da vida, o materialismo, a luta de classes”. A desdobrar-se nas múltiplas personagens de Strindberg está um elenco formado por Ana Brandão, António Mortágua, Joana Carvalho, Lisa Reis, Mário Santos, Patrícia Queirós, Paulo Freixinho e Pedro Frias.

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