Alemanha confirma recuo de 0,1% no terceiro trimestre

Índice de clima económico do instituto Ifo recuperou em Novembro, mas crise orçamental criada nesta semana cria receios de prolongamento da conjuntura negativa.

Foto
Empresa de ferro situada em Duisburgo Reuters/Wolfgang Rattay
Ouça este artigo
00:00
03:05

A Alemanha registou durante o terceiro trimestre do ano uma contracção de 0,1% na economia, prolongando o cenário de quase estagnação em que tem vivido durante este ano, confirmou nesta sexta-feira o instituto de estatísticas do país. Para os próximos meses, apesar de se estar a assistir agora a uma retoma do ambiente entre as empresas, os receios mantém-se devido aos riscos trazidos pela crise orçamental e política que se instalou nesta semana.

Os dados da autoridade estatística alemã publicados nesta sexta-feira vieram confirmar a informação preliminar que já tinha sido avançada no início deste mês. Depois de um crescimento ligeiro de 0,1% no segundo trimestre, a economia alemã registou no terceiro trimestre o movimento precisamente inverso, com um recuo também ligeiro de 0,1% no PIB.

A maior economia da zona euro mantém-se assim num estado de quase estagnação que já se verifica desde o ano passado, com os efeitos negativos da inflação, subida das taxas de juro e abrandamento da procura externa dirigida à indústria do país a não permitir que a Alemanha inicie uma recuperação.

No terceiro trimestre, revelam os dados agora publicados, foi a descida de 0,3% no consumo privado que mais contribuiu para a quebra do PIB, com o crescimento de 0,2% do consumo público a não chegar para compensar esse movimento negativo.

Ao mesmo tempo que os dados do PIB eram divulgados, surgiram alguns sinais mais positivos para a economia alemã provenientes da subida, pelo terceiro mês consecutivo, do indicador de clima económico calculado pelo instituto Ifo. Este índice, que mede a confiança declarada pelos empresários na economia, cifrou-se em 87,3 pontos em Novembro, um valor que, embora tenha ficado abaixo das expectativas, representa uma ligeira subida em relação a Outubro.

Estes números, contudo, estão a ser recebidos com muita prudência. O problema é que, cerca de três quartos das respostas ao inquérito realizado pelo Ifo foram dadas antes de ter deflagrado uma crise orçamental na Alemanha que pode pôr em causa as expectativas de crescimento da economia. No início desta semana, o tribunal constitucional alemão decidiu não permitir ao Executivo a utilização do fundo de 60 mil milhões de euros que este planeava usar para realizar uma parte significativa dos investimentos na transição climática.

Esta decisão está já a forçar o Governo a reavaliar os seus planos orçamentais, tendo congelado quaisquer novos compromissos de despesa. Apesar de estar agora a ser ponderada a suspensão, pelo quarto ano consecutivo, da regra do travão de dívida para fazer face a esta insuficiência de fundos, a aplicação de uma política orçamental mais restritiva do que o previsto parece inevitável. E o risco de um desentendimento grave entre os três partidos que compõem o actual Governo tornou-se igualmente muito maior.

É por isso que subsistem os receios de um prolongamento da evolução negativa da economia alemã no último trimestre deste ano. Para além de uma recuperação forte do consumo privado e do investimento ser vista como muito improvável, a ajuda proveniente do consumo público pode agora desaparecer, tendo em conta a travagem forçada a que estão a ser sujeitas as despesas do Estado.

Caso a economia volte a registar uma contracção no quarto trimestre, a Alemanha entrará numa situação de recessão técnica, definida como dois trimestres consecutivos de variação negativa do PIB em cadeia.

Sugerir correcção
Comentar