Curiosidades: Bastardo, Lavradio e os vinhos da “banda d’além”

Antes de a pressão urbanística ditar o fim das vinhas, produzia-se vinhos de elevada qualidade na freguesia do Barreiro. A casta que lhes dava origem quase desapareceu, mas há quem tente recuperá-la.

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Houve um tempo em que a casta bastardo reinava majestosamente pelas terras da “banda d’além”, aquela que os de Lisboa hoje chamam a “outra banda”.

A história da uva bastardo remonta às terras altas das montanhas do Jura, onde se chama trousseau, e encontrou um novo lar quando os cruzados a trouxeram para terras lusas no século XII. Espalhou-se por todo o lado.

No que é hoje a Península de Setúbal, sempre existiu muita vinha. Como grande produtora de vinho, a “banda d’além” contribuía com uma razoável parcela para os cofres do reino.

E o bastardo, ou bastardinho, era a uva mais cultivada. Algumas localidades ganhariam fama com os seus vinhos, e os do Lavradio, povoação já referida desde 1289, nas proximidades do Barreiro, ainda ecoam como dos mais procurados e prestigiados. A cidade de Lisboa era cliente assídua, a corte idem, e a exportação era itinerário usual, normalmente reservado aos melhores néctares como os do Lavradio.

Os bastardinhos eram elogiados como licorosos refinados e os que levaram fama e reconhecimento ao Lavradio. No que diz respeito à qualidade, os vinhos tintos eram igualmente reconhecidos pela sua qualidade, um destaque que se manteve firme até 1867. No entanto, com o passar do tempo, a produção diminuiu gradualmente, culminando no desaparecimento das vinhas na década de 1960.

Recentemente, o bastardo – que não deve ser confundido com a homónima casta do Douro – tem visto um ressurgimento de interesse por parte de produtores determinados na sua preservação. Neste momento, sete produtores dedicaram-se ao plantio de vinhas desta casta, perfazendo seis hectares.

Cá estaremos a dar alento a esta nova vida do vinho do Lavradio e do bastardo.

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Este artigo foi publicado no n.º 6 da revista Solo.

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