“As pessoas palestinianas não são descartáveis”: quatro vozes oficiais (mais uma) por Gaza

Da Bélgica aos Estados Unidos, há governantes e partidos a pedir um cessar-fogo, sanções a Israel e o fim do “silêncio ensurdecedor” em relação às vítimas dos ataques.

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Os protestos pró-Palestina e a favor de um cessar-fogo têm-se assinalado um pouco por todo o mundo, Portugal incluído. Alguns terminam com confrontos e detenções, outros são feitos apesar das ordens em sentido contrário: em Berlim, por exemplo, o chanceler alemão Olaf Scholz pediu à polícia para impedir manifestações a favor da Palestina, depois de terem sido registados actos anti-semitas.

Ainda que estes pedidos em forma de manifestação aconteçam, as posições oficiais são mais contidas. Na votação de uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, que pedia o cessar-fogo humanitário, o respeito ao direito internacional e a libertação de civis, 14 países, incluindo os Estados Unidos, votaram contra. 45 optaram pela abstenção. Mas, dentro dos governos ou dos partidos, há membros que têm sido mais vocais em relação ao ataque de Israel a Gaza.

Ione Belarra, secretária-geral do Unidas Podemos e ministra dos Direitos Sociais, Espanha

“O estado israelita deve acabar este genocídio planeado contra os palestinianos”, defendeu Ione Belarra, secretária-geral do Unidas Podemos. Em entrevista à Al Jazeera, a ministra dos Direitos Sociais de Espanha chamou a atenção para o “silêncio ensurdecedor” em relação às vítimas dos ataques israelitas.

Ione Belarra defendeu ainda que Espanha e os outros países deveriam cortar relações diplomáticas com Israel, repetindo as “acções rápidas” que se viram quando a Rússia invadiu a Ucrânia. “Acredito que isto ia mandar a mensagem política correcta, que é que não queremos ter nada a ver com este criminoso de guerra que é o líder israelita. Temos de agir e ser mais firmes, independentemente do facto de Israel ser muito poderoso e ter amigos poderosos.”

Petra De Sutter, vice-primeira-ministra da Bélgica

A vice-primeira-ministra da Bélgica pediu ao governo para adoptar sanções contra Israel e para investigar os bombardeamentos de hospitais e campos de refugiados. Petra de Sutter apelidou a “chuva de bombas” de “desumana” e afirmou ser “claro” que “Israel não quer saber dos pedidos internacionais para um cessar-fogo”.

Petra de Sutter disse ainda que devia ser feito um corte na importação de produtos dos territórios palestinianos ocupados, e que os colonos violentos, políticos e soldados responsáveis pelos crimes de guerra deviam ser impedidos de entrar na União Europeia.

Defendeu ainda que deviam ser aplicadas sanções às empresas e pessoas que financiam o Hamas.

Richard Boyd Barret, partido People Before Profit, Irlanda

“Vocês não tiveram problemas, e correctamente, em usar linguagem robusta para descrever os crimes contra a humanidade de Vladimir Putin, mas não usam a mesma linguagem para descrever o tratamento de Israel aos palestinianos”, acusou o político no parlamento irlandês.

Barret tem sido uma voz activa na defesa da Palestina, tendo já pedido a expulsão do embaixador de Israel na Irlanda. “Vocês não querem usar a palavra ‘apartheid’, nem sequer ‘sanções’”, lamentou, chamando a atenção para “as décadas de perseguição brutal e desumana dos palestinianos”, os “sucessivos ataques a Gaza”, a “bem sucedida anexação de territórios” e a “sistemática aplicação de regras de apartheid”.

Não é o único irlandês a condenar Israel. O primeiro-ministro, Leo Varadkar, condenou o ataque do Hamas, mas defendeu que a resposta de Israel parece “vingança”.

O Presidente Michael D. Higgins acusou o governo de Benjamin Netanyahu de minar normas internacionais de direitos humanos.

Rashida Tlaib, Membro da Câmara dos Representantes, Partido Democrata, Estados Unidos

“Não acredito que tenho de dizer isto, mas as pessoas palestinianas não são descartáveis”, disse, visivelmente emocionada, a palestino-americana Rashida Tlaib.

Num discurso em que apelou à paz, a congressista alertou para o “precedente muito perigoso” que está a nascer: “A ideia de que criticar o governo de Israel é anti-semita está a ser usada para silenciar diversas vozes”, defendeu, salvaguardando que o seu discurso era contra o governo de Israel e não contra os judeus.

Por causa das suas declarações, o Congresso aprovou uma resolução de censura. “Ao invés de reconhecerem a voz e perspectiva da única palestino-americana, os meus colegas preferiram distorcer a minha posição com mentiras óbvias. Denunciei repetidamente as mortes horríveis de civis levadas a cabo pelo Hamas e o governo de Israel, e chorei as vidas israelitas e palestinianas perdidas.”

Mais uma: o Governo boliviano

No início do mês, a Bolívia cortou as relações diplomáticas com Israel, por considerar que a ofensiva militar “agressiva e desproporcional” e uma “ameaça à paz e segurança internacionais”, referiu, em conferência de imprensa, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Freddy Mamani.

A ministra da presidência, María Nela Prada, apelou a um cessar-fogo e acusou Israel de “crimes contra a humanidade”.

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