IBM, Apple e Disney suspendem anúncios no X devido a mensagens anti-semitas

Anúncios da IBM e Apple surgiram ao lado de publicações de apoio a Adolf Hitler e ao regime nazi. Casa Branca condena “promoção repugnante” do anti-semitismo por Elon Musk.

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Elon Musk, dono do Twitter, também é acusado de promover teorias da conspiração anti-semitas Reuters/JONATHAN ERNST
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A gigante da tecnologia IBM suspendeu a compra de anúncios na rede social X (o antigo Twitter), depois de uma organização não-governamental norte-americana de escrutínio dos media ter denunciado, na quinta-feira, que a publicidade das empresas surgiu ao lado de mensagens abertamente anti-semitas e de apoio a Adolf Hitler.

A debandada de anunciantes ganhou novas proporções esta sexta-feira quando a Apple, a Disney e a Lionsgate decidiram também suspender os seus investimentos em publicidade na plataforma devido a uma publicação anti-semita de Elon Musk, o multimilionário que detém o X e que tem sido acusado de facilitar a propagação de ideias extremistas na rede social.

Num comunicado enviado ao jornal Financial Times, a IBM declarou ter tolerância zero para o discurso de ódio e a discriminação, e anunciou a suspensão imediata de toda a publicidade no X enquanto decorre uma investigação sobre esta situação inaceitável. Mais tarde, o site noticioso Axios noticiou que a Apple tinha tomado a mesma decisão, enquanto um porta-voz da Lionsgate comunicou à Bloomberg que a publicidade na plataforma estava suspensa “por causa dos recentes tweets anti-semitas de Elon Musk”. O The New York Times avançou depois que a Disney optou pelo mesmo caminho.

Na quinta-feira, a organização Media Matters publicou um artigo, ilustrado com captações de ecrã retirados da rede social X, onde se vêem anúncios publicitários da IBM e de outras empresas — incluindo a Apple, Oracle, Xfinity e Bravo — ao lado de posts em que a imagem de Hitler é usada para retratar um despertar espiritual, e em que um utilizador enaltece políticas do regime nazi e afirma que não existe nenhum argumento contra o Nacional-Socialismo além da negação da biologia/raça e da alegação de que os judeus são 'muuuito' incompreendidos.

No mesmo artigo, a Media Matters destaca aquilo que considera ser o papel importante do dono do X, o multimilionário Elon Musk, na promoção do anti-semitismo e do discurso de ódio através da rede social.

Na quarta-feira, Musk respondeu na sua conta no X — onde é seguido por 163 milhões de utilizadores, mais do que Barack Obama ou Cristiano Ronaldo, por exemplo — a um post considerado anti-semita por organizações como a Liga Contra a Difamação, e que faz eco das posições do atirador que matou 11 pessoas numa sinagoga em Pittsburgh, no estado norte-americano da Pensilvânia, em 2018.

Não tenho qualquer interesse em defender os judeus ocidentais, que estão a chegar à conclusão de que o seu apoio às hordas de minorias que invadem os seus países parecem não gostar muito deles, disse um utilizador do X, numa mensagem que mereceu uma reacção positiva de Musk: Disseste a verdade, comentou o empresário.

Esta é, literalmente, a teoria da conspiração promovida pelo supremacista branco que cometeu um massacre na sinagoga de Pittsburgh. Musk concorda, salientou, também no X, Yair Rosenberg, repórter da revista The Atlantic.

Nesta sexta-feira, o vice-porta-voz da Casa Branca, Andrew Bates, veio condenar a reacção de Musk e aquilo que diz ser a promoção repugnante de ódio racista e anti-semita por parte do dono da rede social X. “É inaceitável repetir a mentira hedionda que esteve na base do acto anti-semita mais mortífero da História americana”, disse Bates, referindo-se ao massacre na sinagoga de Pittsburgh.

Elon Musk reagiu ao artigo da Media Matters apelidando-a como “uma organização maléfica”.

A publicidade representava cerca de 90% das receitas do antigo Twitter antes de Elon Musk o comprar. O empresário admitiu este ano que as receitas provenientes dessa fonte desceram em cerca de 50% e que a empresa vale hoje menos de metade (19 mil milhões de dólares) do que quando a comprou (44 mil milhões de dólares). As decisões destas grandes empresas podem representar um rombo financeiro significativo para o X. Só a Apple gastou mais de 180 milhões de dólares em publicidade na plataforma no ano passado.

com João Pedro Pincha

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