O pari do PS

O pari do PS é ir a jogo de forma racional, fazer-se vontade, encher a arena, saber que da aposta sairá um resultado que será sempre um caminho a fazer.

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“(…) esta bela justiça corrompida tudo corrompe

Assim escreveu Blaise Pascal, o génio por quem este ano França e os franceses se vergam, em comemorações dos quatro séculos de nascimento do matemático.

Casta de 1623, Pascal, sobejamente conhecido como o inventor da máquina calculadora, foi em junho passado beatificado pelo Papa Francisco num gesto de reconhecimento do homem que, além de um brilhante matemático, pensou filosófica e teologicamente a natureza humana.

Pascal defendia que a existência de Deus era mais do que uma evidência, era uma aposta. O ser humano, na sua infinita finitude, tinha duas hipóteses: ou apostava na existência de Deus e, se ganhasse, ganhava tudo, e, se acaso perdesse, não perdia nada; ou não apostava na existência de Deus, mantendo-se estático entre o não perder e o não ganhar.

O argumento apologético pascaliano da aposta (pari) coloca o ser humano, a tal “árvore que não sabe que é miserável”, perante o existencialismo voluntário de quem aposta, sendo que quem aposta pode ganhar tudo sem nunca perder nada – “il faut parier” – conclui Pascal.

A defesa racional fez do argumento apologético um dos mais populares do século XVII. Seguido por muitos pensadores, esteve na origem das primeiras grandes reflexões da Teoria das Decisões – um campo de estudo interdisciplinar, objeto de conhecimento da Economia à Ciência Política.

Num momento em que um voto não é um voto, em que os votos são descredibilizados pela lógica do minuto a seguir, em que a vontade do eleitor não garante a inviolabilidade do contrato (eleitoral), recumbimo-nos ao circo do hoje é amanhã não.

Vamos apostando! Hoje neste, amanhã naquele. Seguimos lançando os dados, mostrando as cartas, ganhando com volúpia, perdendo com arbitrariedade. Apostamos à vez, estrinchando umas vezes o sim, outras o não, vamos seletivamente apostando no meio desta desconstrução.

O PS, que por estes dias procura um argumento que não lhe roube a sorte, pode encontrar no pari de Pascal o seu. Como? Se o discurso das contas certas é falacioso e dúbio, o argumento apologético pascaliano da aposta, o pari, bem que lhe poderá servir de amuleto.

Por um lado, seguindo o matemático, o PS deve não esquecer que “uma série de ações, pode dar origem a mais de um resultado possível com diferentes probabilidades, o procedimento racional é identificar todos os resultados possíveis e determinar o ‘valor esperado’; a ação a ser escolhida deve ser a que dá origem ao maior valor total esperado.”

Por outro lado, confiando no filósofo e nas regras da probabilidade, Pedro Nuno Santos, o também – já se pode dizer? líder do PS, deve em pathos crer que, “calculando a soma de ganho ou perda de felicidade ou de infelicidade em cada uma das hipóteses, conclui-se pela incomparável vantagem da aposta”.

Felicitate! É isso, afinal, para que serve o jogo.

O pari do PS é apostar, ir a jogo de forma racional, fazer-se vontade, encher a arena, saber que da aposta sairá um resultado que para o PS será sempre um caminho a fazer, e nunca um caminho não feito, a prisão de uma não aposta. “E nada melhor do que o jogo para definir o caráter supralógico da situação do homem no mundo”.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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