Dinheiro divide reitores, que escolhem nesta terça-feira um novo presidente

Reitor da Universidade do Minho, Rui Vieira de Castro, é candidato de continuidade. Instituições mais pequenas ao lado do reitor da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira.

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Reitores reúnem-se nesta terça-feira em Braga para escolher o seu novo presidente jos Joao Silva
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Os líderes das universidades nacionais escolhem nesta terça-feira um novo presidente para o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). Há dois candidatos ao cargo, o reitor da Universidade do Minho, Rui Vieira de Castro, e o seu homólogo da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira. Não é a primeira vez que há divisões naquele órgão em momento eleitoral, mas desta vez é o financiamento público a marcar as maiores divergências entre as instituições.

No Verão, o Governo apresentou uma nova fórmula de financiamento do sector – que já tem reflexos no Orçamento do Estado para 2024, mas que só seria totalmente implementada nos anos seguintes, o que poderá agora não acontecer, fruto da dissolução da Assembleia da República. Este modelo continua a ser largamente baseado (70% da verba disponível) no número de estudantes inscritos em cada instituição de ensino superior.

Os restantes 30% são destinados a corrigir as divergências entre o valor da dotação do Estado recebido por algumas instituições e aquilo a que teriam direito se a fórmula anterior tivesse sido aplicada, devido ao crescimento conseguido nos últimos anos.

Essa solução acentuou as divergências entre as universidades nacionais, com as instituições de menor dimensão, que se sentem particularmente atingidas pela medida do Governo, a mobilizarem-se em torno da candidatura de Paulo Jorge Ferreira, reitor da Universidade de Aveiro. Este professor catedrático, de 61 anos, é doutorado em Engenharia Electrotécnica e dirige a Universidade de Aveiro desde 2019. Foi reeleito no ano passado e tem mandato até 2026.

Não é, de resto, a primeira vez que Paulo Jorge Ferreira – que não respondeu aos vários contactos do PÚBLICO ao longo dos últimos dias – se candidata à liderança do CRUP. Há três anos foi o opositor do reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, que acabaria eleito na segunda volta, por um voto de vantagem, depois de a primeira votação ter terminado empatada.

Desta feita, terá pela frente aquele que pode ser visto como o candidato da continuidade da liderança do CRUP dos últimos anos. Rui Vieira de Castro, 65 anos, professor catedrático do Instituto de Educação da Universidade do Minho, lidera aquela instituição de ensino desde 2017. No mandato que agora termina foi vice-presidente do órgão que representa os reitores.

Vieira de Castro foi, aliás, um dos principais defensores, ao lado da reitora do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, Maria de Lurdes Rodrigues, de uma solução política que permitisse reforçar o défice de financiamento público apresentado por algumas instituições de ensino superior, um dos principais motivos de divergência no seio do CRUP.

As universidades de Aveiro e do Minho fazem parte do grupo das chamadas "universidades novas", criadas em 1973, pela reforma do ministro Veiga Simão. São duas instituições com características e dimensões semelhantes. No entanto, nestas eleições do CRUP, o reitor aveirense surge apoiado sobretudo pelas instituições mais pequenas do sector, ao passo que o líder minhoto tem o apoio das maiores instituições públicas nacionais.

Apesar de garantir que “não há divergências nas matérias essenciais” entre os reitores das várias universidades públicas, Rui Vieira de Castro não deixa de assumir “diferenças” entre as instituições em matérias que “são hoje críticas”.

Os “desafios” vão “mais longe” do que apenas o financiamento do ensino superior, afirma o reitor da Universidade do Minho, e incluem também o orçamento destinado à ciência, a clara “obsolescência das infra-estruturas tecnológicas e laboratoriais” e as “carências” nos apoios sociais aos estudantes: “São questões que não afectam da mesma maneira todas as instituições de ensino superior.”

No CRUP têm assento as 14 universidades públicas, além da Universidade Católica Portuguesa e do Instituto Universitário Militar. Todas as instituições têm um voto na hora de escolher o líder do organismo que as representará, entre outras instâncias, junto do Governo nos próximos três anos. A eleição do novo presidente decorre na tarde desta terça-feira, numa reunião marcada para as instalações da Universidade do Minho, em Braga.

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