Vozes de moderação

Barack Obama e Josep Borrell reconheceram falhanços na construção de uma solução de paz para Israel e a Palestina. Mais vozes de moderação precisam-se e não activismo de TikTok.

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Precisamente no momento em que passa um mês desde o hediondo e inimaginável ataque do Hamas a cidadãos israelitas, alguma serenidade e reflexão são bem-vindas. Interrompendo o fervor e o imediatismo de alguma discussão no espaço público, o ex-Presidente norte-americano Barack Obama e o actual alto-representante para a Política Externa, Josep Borrell, verbalizaram o inevitável.

“Se quisermos mesmo resolver o problema [do conflito israelo-palestiniano], temos de assimilar a verdade por inteiro. E, nesse caso, temos de admitir que ninguém tem as mãos limpas e que todos nós somos cúmplices de alguma forma.”​ A declaração límpida foi do ex-Presidente norte-americano no domingo.

“A tragédia que está a desenrolar-se no Médio Oriente é o resultado de um falhanço político e moral colectivo, e as populações israelita e palestiniana estão a pagar um preço alto por isso. Este falhanço político e moral é resultado da nossa falta de vontade para resolver o problema israelo-palestiniano”, acrescentaria nesta segunda-feira o responsável europeu pela política externa.

Josep Borrell, que desde o ataque do Hamas de dia 7 tem tido posições de grande sensatez apesar de ter sido atropelado pela impetuosidade ou pelo mediatismo da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, veio chamar a atenção para que a comunidade internacional se comprometeu “formalmente” com a solução dos dois Estados, mas “sem um plano credível para atingir esse objectivo”. Houve vários falhanços ao longo dos anos e a solução não estará em nenhum “activismo de TikTok”, acrescentaria ainda Obama.

A assunção de várias incapacidades já tinha sido verbalizada pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, num discurso que gerou uma reacção violenta por parte de Israel, mas que não teve qualquer eco público nos altos dirigentes dos EUA.

A solução só pode existir com líderes moderados, embora naquela zona do globo seja difícil encontrá-los, como, aliás, a última intervenção do ministro do Património, Amihai Eliyahu, veio demonstrar. No domingo, declarou numa entrevista à rádio israelita Kol Barama que lançar uma bomba nuclear sobre a Faixa de Gaza “era uma opção”. Benjamin Netanyahu desmentiu-o publicamente, mas limitou-se apenas a suspender o ministro das reuniões de governo.

Voltando à “vontade” de que Josep Borrell falava, esta pode vir a existir com mais empenho entre a comunidade internacional depois do choque de 7 de Outubro e de episódios de mea culpa colectiva, mas infelizmente não a encontramos, nem no Governo radical de Benjamin Netanyahu​ nem na organização terrorista que manda na Faixa de Gaza. Os acordos de Oslo estão muito longe e infelizmente as lideranças da altura, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, também.

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