Lembro-me de o ver quase sempre na rua do Café Tic-Tac, com uma boina suja a cobrir a careca e uma camisa surrada que deixava perceber a camisola interior de cavas. Nunca entendi uma palavra do que dizia, mas nunca o vi calado. Falava muito, sempre sozinho, e limpava com as costas das mãos o excesso de saliva que se acumulava nos cantos da boca. Urinava onde quer que estivesse e por mais de uma vez foi encontrado inconsciente, mergulhado numa poça de vómito. Ouvia dizer que era um bêbado e era isso que repetia, mesmo sem compreender o que significava, quando alguém recém-chegado perguntava quem era o homem que gritava impropérios enquanto lutava contra a falta de equilíbrio.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.