Oposição moçambicana boicota sessão parlamentar em defesa da “reposição da verdade eleitoral”

Frelimo garante que tem legitimidade para governar as autarquias que ganhou. Conferência Episcopal pede ao partido “beneficiário” da crise para “não tornar o país inviável”.

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Os simpatizantes da Renamo continuam a sair à rua para protestar contra a "fraude" eleitoral LUSA/LUÍSA NHANTUMBO
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A Renamo e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) deixaram vazias as suas cadeiras na sessão de abertura pós-eleitoral da Assembleia da República, esta quinta-feira, em protesto por aquilo que consideram ser a “megafraude” nas eleições autárquicas de 11 de Outubro, que deram uma vitória esmagadora à Frelimo (64 das 65 autarquias).

A ausência já tinha sido anunciada pelos dois partidos. O porta-voz da Renamo, José Manteigas, citado pela DW, garantiu que o regresso dos seus deputados ao Parlamento “vai depender do partido Frelimo e da reposição da verdade eleitoral”. Enquanto Lutero Simango, líder do MDM, pediu na quarta-feira a “recontagem dos votos” devido “às irregularidades no processo eleitoral”.

Falando para uma assembleia sem contraditório, o líder da bancada parlamentar da Frelimo, Sérgio Pantie, citado pela Lusa, reiterou que a contagem intermédia de votos “atesta que o povo deu legitimidade à Frelimo para governar a maioria das autarquias”.

"Os eleitores escolheram o partido que melhor está preparado e em condições de resolver as suas preocupações do dia-a-dia", explicou o deputado, antes de lembrar que, em 2018, a Frelimo perdeu a maioria das autarquias de Nampula, o maior círculo eleitoral do país, e “não pôs em causa os resultados anunciados pelos órgãos de gestão eleitoral, não realizou marchas de protesto, não incitou à violência tão pouco à desobediência civil."

No dia em que milhares de apoiantes da Renamo voltaram a marchar em protesto pelas ruas da capital moçambicana, em que mais um tribunal distrital de Maputo – Kamavota, depois de Kampfumo e Nhamankulu –, aceitou o recurso da oposição ordenando a recontagem dos votos, em que a Ordem dos Advogados exigiu a dissolução da Comissão Nacional de Eleições, a Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) veio divulgar a sua posição sobre “os elementos alarmantes” que emergem deste processo.

Falando em “ilícitos e irregularidades eleitorais”, o arcebispo de Maputo, D. João Carlos Hatoa Nunes, vice-presidente e porta-voz da CEM, leu uma nota pastoral que revela a “muita preocupação” da Igreja Católica, porque, “à medida que são divulgados os resultados definitivos, os níveis de tensão sobem quando deviam estar a diminuir”.

Pedindo a revisão “com responsabilidade e justiça de todo o processo de apuramento de resultados”, de modo “a garantir o reflexo da vontade expressa através dos votos, a vontade do povo”, os bispos moçambicanos pedem “à liderança do partido beneficiário desta crise”, a Frelimo, para “não tornar o país inviável”, tudo “por causa de uma eleição que não tem credibilidade”.

“Você vai vencer, sim, mas não vai convencer”, sublinhou o arcebispo de Maputo.

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