Nutricionistas a caminho das escolas

Perguntar-me-ão: nove nutricionistas são suficientes? Obviamente que não. Este deverá ser apenas o primeiro passo, um grande passo para a mudança.

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Será uma realidade: iniciam funções em novembro os nove nutricionistas do concurso para o Ministério da Educação.

Parece, à primeira vista, um pequeno passo para tantos anos de esforço para colocar este assunto na agenda pública e política, mas diria que este é um passo maior para duas mudanças emergentes no nosso país: por um lado, o reforço e proximidade dos nutricionistas às estruturas de ensino para implementação de estratégias alimentares mais robustas, estruturadas e sustentáveis; e, por outro lado, a possibilidade de fomentar a literacia alimentar na comunidade escolar levando a escolhas e decisões diárias mais acertadas.

Passo maior, porque na verdade há apenas dois nutricionistas afetos ao Ministério da Educação (um na Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares e outro na Direção-Geral de Educação), tornando-se assim óbvia a fragilidade quando se trata de assuntos relacionados com a alimentação dos mais jovens, apesar do grande empenho e trabalho de mérito destes nutricionistas pioneiros.

Aliás, esta é uma discussão antiga, em que a Ordem dos Nutricionistas sempre se debateu pela necessidade da presença de nutricionistas nas escolas, colocando o assunto na agenda pública e política. Já em 2012, a Assembleia da República recomendava ao Governo a necessidade de nutricionistas nas escolas, mas, apesar da forte evidência da sua necessidade, só em 2020 o Orçamento do Estado veio a acautelar esta previsão.

Assim, parece claro, que a integração de mais nutricionistas no Ministério da Educação, agora em fase de materialização, assume um papel fundamental para um ambiente alimentar salutogénico nas escolas portuguesas, facto de suma importância para a promoção e adoção de hábitos alimentares mais saudáveis.

A estes nutricionistas competirá auxiliar na implementação de uma estratégia para melhorar a alimentação escolar, sempre em articulação com todos os atores envolvidos, como sendo toda a comunidade escolar (os alunos, diretores, professores, pais e auxiliares), mas também não esquecendo – e de essencial relevância – os restantes atores envolvidos na alimentação escolar, com são os nutricionistas das autarquias, das empresas de restauração coletiva e do Serviço Nacional de Saúde.

E se dúvidas houvesse da necessidade de nutricionistas nas escolas portuguesas, relembremos a prevalência de excesso de peso e obesidade infantil em Portugal. Os números do recente relatório do COSI Portugal 2022 confirmam a dimensão do problema, com o aumento da prevalência de excesso de peso e obesidade infantil em Portugal, especificando que entre 2019 e 2022, o excesso de peso em crianças aumentou de 29,7% para 31,9% e a obesidade infantil registou um crescimento de 1,6 pontos percentuais, encontrando-se desta forma nos 13,5%.

Portugal retrocede, assim, dez anos no que respeita ao excesso de peso e obesidade em crianças, configurando-se um cenário muito preocupante quanto ao estado nutricional da população em idade escolar.

Estes dados são um alerta que anteveem um futuro não desejado e que carecem de medidas urgentes para a sua minimização e controlo, sendo o meio escolar o palco privilegiado para a modulação de comportamentos alimentares nos mais novos.

A integração destes nutricionistas no sistema escolar é uma medida relevante que pode, efetivamente, ajudar a combater a obesidade e outras doenças associadas a uma alimentação inadequada.

Perguntar-me-ão agora: nove nutricionistas são suficientes?

Obviamente que não. Este deverá ser apenas o primeiro passo, um grande passo para a mudança.

Agora é tempo de agir: integrar os nutricionistas, dar-lhes as ferramentas necessárias para o exercício eficiente das suas funções e analisar, depois da estratégia implementada e desenvolvida, os resultados reais, para que através da evidência fique demonstrada a efetividade da sua atuação.

Estou certa que estes nutricionistas, a somar aos outros vindouros em muito contribuirão para os ganhos em saúde através das escolas do país.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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