Hospital de Gaia adia cirurgias com 94% dos intensivistas a recusar fazer mais horas extras

Recusa de horas extra continua a causar constrangimentos nos hospitais.

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O centro hospitalar de Vila Nova de Gaia serve a população do maior concelho da região Norte LUSA/ESTELA SILVA
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Com 12 das 28 camas dos cuidados intensivos polivalentes fechadas por falta de médicos que se recusam a fazer mais horas extraordinárias do que as 150 obrigatórias por ano, o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia tem tido que adiar várias cirurgias por dia e dar prioridade a situações urgentes.

“Têm que ser feitas escolhas”, explicou ao PÚBLICO Rui Guimarães, presidente do conselho de administração deste centro hospitalar que serve a população daquele que é o maior concelho da região Norte.

Rui Guimarães afirmou antes, em declarações à SIC - e à margem de um encontro para anunciar que Gaia vai ser o primeiro hospital do país a acabar com as garrafas de plástico -, que há doentes oncológicos com cirurgias adiadas por falta de vagas, como foi o caso de um paciente que domingo teve que ser encaminhado para o Centro Hospitalar de São João (Porto).

Assumindo que a situação está “muito complicada” no centro hospitalar, uma vez que 210 (159 especialistas e 51 internos) dos cerca de 1500 médicos que ali trabalham entregaram minutas em que se recusam a fazer mais trabalho suplementar, o administrador explica que o principal problema é que, nos cuidados intensivos, a maior parte – mais de 94% dos médicos – se recusa a fazer mais horas extraordinárias.

Nas outras especialidades, a percentagem de médicos que entregaram as minutas de escusa a mais trabalho extraordinário é bem inferior – 28% ginecologia, 13,9% na cirurgia geral, 8,5% na pediatria, especifica Rui Guimarães, que é médico.

Na semana passada, o centro hospitalar já tinha adiantado também que estava com problemas na área da ortopedia, nomeadamente na sexta-feira à noite, devido à falta de médicos para completar a escala.

À noite, a equipa-tipo de ortopedia (composta por três médicos) "não estará completa, funcionando apenas com dois elementos, pelo que poderão existir constrangimentos na resposta habitual", admitiu. Rui Guimarães confirma este problema que poderá obrigar ao desvio ao CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) de casos de trauma, por exemplo.

Na carta enviada à administração pelos médicos que se escusam a fazer mais horas extraordinárias, estes explicam que não se trata de uma medida contra a direcção de serviço ou contra a direcção clínica e frisam que pararão com esta forma de protesto logo que sejam retomadas as negociações dos sindicatos médicos com o Governo e apresentadas propostas concretas que permitam chegar a um acordo, contextualiza Rui Guimarães.

No entretanto, e enquanto não há um acordo entre os sindicatos e o Governo, Rui Guimarães pede às pessoas para apenas irem ao serviço de urgência em caso de verdadeira necessidade e lembra que cerca de 35% dos atendimentos nesta urgência são triados com pulseiras verdes, azuis e brancas, o que significa que não se trata de casos urgentes e poderiam ser atendidos noutro local, nomeadamente nos centros de saúde. O serviço de urgência deste centro hospitalar tem, em média, cerca de 500 episódios de urgência por dia.

Águeda e Guarda com problemas

Também a ser afectada pela falta de médicos, a Urgência Básica do Hospital de Águeda vai fechar das 20h desta terça-feira até às 8h de quarta-feira, informou o Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV).

"Por não ter sido possível completar as escalas médicas, o Serviço de Urgência Básica do Hospital Conde de Sucena, Águeda, vai encerrar às 20h do dia 17 de Outubro e até às 8h do dia 18 de Outubro", informa um comunicado do CHBV. De acordo com o mesmo comunicado, na terça-feira só serão admitidos doentes até às 19h.

Durante o período em que a Urgência Básica permanecer encerrada "os utentes deverão dirigir-se às unidades hospitalares mais próximas", indica a administração hospitalar, que "apela à compreensão de todos".

No comunicado, a administração do CHBV, que agrega os hospitais de Águeda, Aveiro e Estarreja, lamenta "os eventuais constrangimentos que esta situação possa causar e que, apesar de todos os esforços, não foi possível ultrapassar".

Na Guarda, a directora clínica da Unidade Local de Saúde (ULS), Fátima Cabral, revelou que há mais camas no internamento no Hospital da Guarda para acolher os doentes que permaneciam na Urgência e para evitar a transferência para outros hospitais quando não há medicina interna.

"Aumentámos o número de camas para haver mobilização de doentes que permaneciam no serviço de urgência, na véspera de entrarmos nesse encerramento de medicina interna na Urgência, para continuar a prestar cuidados sem terem de ser transferidos", explicou a responsável.

Fátima Cabral admitiu que a medida "poderá não ser muito bem aceite", porque significa "mais carga de trabalho" para os médicos e para os enfermeiros.

"Mas nós não podemos como profissionais de saúde deixar de prestar os cuidados de saúde que nos são exigidos. Há horas a mais nos médicos, também os enfermeiros estão a realizar horas a mais. Isso vai criar algum impacto nos enfermeiros e assim como nos médicos, aqueles que estão a trabalhar trabalham um pouco mais", admitiu.

A Urgência do Hospital da Guarda está sem medicina interna aos feriados e aos fins-de-semana por indisponibilidade dos médicos em fazerem mais horas extraordinárias. Os doentes têm sido transferidos através dos centros de saúde e via Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) para unidades de saúde vizinhas, nomeadamente para a Covilhã e Viseu.

Com Lusa

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