Novos imigrantes brasileiros são de grandes cidades e têm entre 20 e 40 anos

Ao contrário do que acontecia há poucas décadas, agora os brasileiros imigram para Portugal em família e várias delas são da classe média/alta.

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São cada vez mais os brasileiros que escolhem viver em Portugal Paulo Pimenta

A crescente vaga de migração brasileira em Portugal vem predominantemente das grandes cidades, em família, de várias classes sociais e tem entre 20 e 40 anos, disse à Lusa a coordenadora da plataforma de dados de brasileiros no exterior. "É uma população altamente heterogénea, com condições sociais e económicas muitas impactadas pela situação que elas tinham no Brasil e que elas encontram em Portugal também", explicou à Lusa Camila Escudero.

Além disso, há uma tendência de "migração não só da pessoa, mas da família toda, com filhos ainda pequenos", sublinhou, estimando que a "faixa etária está entre os 20 e os 40 anos".

No início do fluxo migratório brasileiro, na década de 1990, a maioria dos brasileiros migrantes era proveniente "das pequenas cidades, do interior", só que hoje "verifica-se a saída das grandes cidades, das capitais", explicou Camila Escudero.

Em 2013, segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a comunidade brasileira em Portugal cifrava-se em 92.120 pessoas e era a principal comunidade estrangeira residente.

Uma década mais tarde esse número quadruplicou: numa resposta enviada à Lusa em Setembro, o SEF precisa que 393 mil cidadãos brasileiros residem em Portugal, com maior incidência nos concelhos de Lisboa, Cascais, Sintra, Porto e Braga, sendo que no final de 2022, viviam em Portugal 239.744 brasileiros.

Este número não abrange as pessoas com dupla nacionalidade.

A professora da Universidade Metodista de São Paulo, responsável pelo projecto criado em 2022 com a missão de sistematizar, organizar e dar visibilidade aos dados que envolvem a presença de brasileiros no exterior, detalhou que, ao contrário das migrações anteriores, o desejo de regressar ao Brasil é "menos explícito".

"As pessoas vão e se der certo vão ficando. Existe a ideia de regressar mas isso é menos explícito", sublinhou, acrescentando que no caso de Portugal há também um entendimento do país "como uma porta de entrada para outros países da Europa". "Em Portugal a gente ainda não percebe essa intenção de regresso", frisou.

A investigadora, que reconhece existir falta de dados sobre a matéria, visto que muitos brasileiros emigram sem notificarem as autoridades locais, afirmou que "o trabalho e a busca por uma vida melhor são factores predominantes de motivação, desse tipo de emigração" e que esta comunidade procura "condições de vida melhor no que diz respeito à segurança e educação".

Há também um crescimento dos brasileiros com um nível de escolaridade superior, em relação às migrações anteriores, disse, referindo-se à nova comunidade brasileira em Portugal, a segunda maior do mundo fora do Brasil, só atrás dos Estados Unidos, que acolhe quase dois milhões de brasileiros.

"Há muitas pessoas vindas de classe média/alta aqui do Brasil, que têm alguns recursos financeiros para se manter em Portugal, ainda que não tenham licença para trabalhar nas suas respectivas áreas de formação", sublinhou.

Mais segurança e salto para a Europa

Camila Escudero analisou ainda as diferentes motivações das classes sociais.

Se nas classes mais baixas a razão é económica, "nas classes mais altas, principalmente, é melhorar a qualidade de vida no que diz respeito à segurança", à educação e "a própria localização de Portugal, que é estratégica na Europa".

Uma novidade nos últimos anos da comunidade brasileira é "um protagonismo da mulher".

No caso das classes mais baixas, explicou Camila Escudero, a mulher "vai para poder ter uma vida melhor e sustentar a família que tem aqui no Brasil". E nas classes mais altas, numa questão de "independência e empoderamento feminino", considerou.

Quanto às migrações que depois acabam por não correr como o esperado, a investigadora afirmou que "com a popularização ao acesso das tecnologias de comunicação" uma franja da sociedade brasileira acaba por emigrar sem a preparação necessária e muitas vezes com falsas esperanças.

"Em relação aos migrantes, principalmente de classes mais baixas, que saem do Brasil com um sonho, têm pouco acesso à informação e quando têm acesso é uma informação enviesada", disse.

"Os próprios brasileiros que já migraram, criam canais no YouTube, para falar "vem para cá, aqui é óptimo, aqui tem tudo" e isso "tem um impacto e um imaginário grande na pessoa", afirmou, apelando a uma migração ordenada, planeada e consciente.

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