Mais de 900 imigrantes brasileiros pediram apoio para regressar ao Brasil

Organização Internacional das Migrações destaca também um aumento dos casos de pessoas em situação de sem-abrigo, violência doméstica ou tráfico de seres humanos em 2022.

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Brasileiros são a maior comunidade imigrante em Portugal Reuters/DIEGO VARA

Os pedidos de apoio ao programa de retorno voluntário de imigrantes em Portugal bateram recordes em 2022, com 1051 inscritos, a maioria brasileiros, disse esta sexta-feira o chefe de missão da Organização Internacional das Migrações (OIM) em Lisboa.

"Os números dão um recorde de inscritos no programa [ARVoRe, Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração de imigrantes no país de origem]. Tivemos 1051 inscritos em 2022, e do total de retornados falamos de 394 pessoas", afirmou Vasco Malta, em declarações à Lusa.

"Para o Brasil, mais especificamente, houve 913 inscrições, que também é um recorde bastante significativo, e retornaram para o Brasil 350", ainda no ano passado, avançou o responsável.

Assim, a comunidade brasileira é a mais representativa ao nível dos pedidos de retorno, mas Vasco Malta destacou também "a presença de Timor-Leste, cujo fluxo migratório já no ano de 2022 foi significativo”, e, de acordo com a sua expectativa, assim continuará em 2023.

Para Vasco Malta, isto pode significar que os brasileiros, a maior comunidade imigrante em Portugal, conhecem melhor e recorrem mais ao programa, mas também pode significar, de acordo com informações recolhidas pela OIM, que "há de facto um conjunto de factores" — desemprego, dificuldades de acesso ao mercado de trabalho e à habitação e de regularização do cartão de residência — que terão contribuído para este aumento do número de pedidos.

Segundo o responsável, não foi só o número de pedidos que aumentou, também cresceram "de forma surpreendente" os casos de pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, a viverem na rua ou vítimas de violência doméstica.

"Aquilo que eu destacaria também em 2022 (...) é o número de casos vulneráveis, isto é, estamos a falar de um número muito significativo de pessoas que nos chegaram em 2022, na última linha, situações de sem-abrigo, de violência doméstica, de tráfico de seres humanos", disse.

Para o responsável, há em 2022 “um número anormal de situações de vulnerabilidade extrema, que sempre aconteceram ao longo dos anos, mas nunca nestes registo tão elevados".

E, apesar de não haver nestes casos estatísticas sobre nacionalidades, o responsável da OIM em Portugal estimou que, sendo a nacionalidade brasileira a que ocupa entre quase 90% daquilo que é o projecto retorno em 2022, "inevitavelmente existirão com grande probabilidade casos de extrema vulnerabilidade entre os cidadãos brasileiros".

No ano passado, foram referenciados à OIM 11 casos de vítimas de redes de tráfico de seres humanos, revelou Vasco Malta. Não sendo um número muito significativo é, na opinião do responsável, "bastante substancial".

"Aquilo que sei é que nós temos assistido, no âmbito do tráfico de seres humanos, a uma multiplicidade de casos, isto é, não só de redes mais organizadas, mas também a situações de tráfico de seres humanos onde não há essa sofisticação das redes a que estamos habituados", acrescentou.

Dos números da OIM, Vasco Malta realçou que entre os imigrantes que pedem o retorno mais de 30% fazem-no ainda no primeiro ano desde a chegada a Portugal, outros 37% voltam no segundo ano de estadia e mais de 30% recorrem passados mais de dois anos como imigrantes no país.

O que isto quer dizer, para Vasco Malta, é que “claramente” há “uma decisão de migração para Portugal que não é informada, não é preparada e não sendo preparada detalhadamente pelas pessoas leva logo, à partida, a uma maior vulnerabilidade".

Sobre o motivo de essa viagem não ser bem preparada, o responsável da OIM considerou que um dos factores que o explicam “é que há pessoas que recorrendo às redes sociais, às redes informais e aos vídeos no YouTube constroem uma imagem acerca de Portugal que não corresponde à realidade".

Por isso, Vasco Malta aconselhou quem queira emigrar “a saber qual o salário médio em Portugal; se nas áreas onde queira trabalhar pode ter trabalho, ou não; os custos médios de vida nas cidades, da casa, da alimentação, da energia".

Quanto ao crescimento do número de pedidos de timorenses, o responsável da OIM explicou que muitos que vinham para Portugal olhavam para o país como "um ponto de trânsito", tendo como destino final o Reino Unido. Contudo, após o Brexit “as dificuldades de entrar naquele país aumentaram, mesmo para os que tinham nacionalidade portuguesa”, explicou Vasco Malta.

Além disso, a comunidade timorense em Portugal também aumentou devido às condições socioeconómicas em Timor-Leste, acrescentou, e houve quem fosse aliciado por um conjunto de empresas que não cumpriu as suas ofertas.

Tudo isto fez com que "os números de inscritos de Timor-Leste no projecto de retorno aumentasse drasticamente entre 2022 e 2023”, e a organização está “a trabalhar para que possam voltar de forma regular, humana e ordeira" ao seu país.

O programa ARVoRe (Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração) da OIM é co-financiado pelo Governo português, através do Serviço de Estrangeiros Fronteiras e pelo Fundo de Asilo, Migração e Integração da União Europeia.

Em 2021, o programa registou 288 inscritos, dos quais 219 eram imigrantes brasileiros, e no total regressaram ao país de origem 113 pessoas, dos quais 93 brasileiros.

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