Qual a idade para tirar a carta de smartphone?

A nossa sociedade requer autorizações e provas de avaliação para utilização de ferramentas que implicam responsabilidade acrescidas, quer para os utilizadores quer para terceiros. E o smartphone?

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Megafone P3: Qual a idade para tirar a carta de smartphone? Tyler Lastovich/ Pexels
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Devido ao modo como os smartphones são construídos (hardware e software), uma criança facilmente o consegue utilizar. O smartphone, para já, é a invenção do século. Trata-se de uma ferramenta poderosíssima. Hoje podemos fazer, quase tudo, com um.

Então, sendo um smartphone poderoso, será adequado para a utilização infantil? A nossa sociedade requer autorizações, idade e provas de avaliação para utilização de ferramentas que implicam responsabilidade acrescidas, quer para os utilizadores quer para terceiros.

Limitamos consumos de álcool, posse de armas, condução de veículos motorizados e muitas outras coisas que sabemos exigir maturidade. Parece que não estamos a seguir os mesmos critérios para os smartphones, que estão longe de ser apenas telefones.

Estão em causa efeitos nos processos de desenvolvimento das crianças pela ausência de interacção e manipulação de objectos, redução da actividade física e da interacção social directa, que implica mobilização de todos os sentidos e formas de comunicação. É preocupante o que se passa nos recreios das escolas.

Mas isto não é o único problema, nem aquele que se relaciona mais com a idade legal de uso, devido ao potencial de perigosidade de uma ferramenta deste calibre. Longe de mim demonizar os smartphones.

Uso diariamente, facilitando a minha vida pessoal e profissional a níveis que jamais imaginei ser possível. No entanto, sou um adulto, tentando estar informado. “Um grande poder acarreta uma grande responsabilidade”, já dizia Stan Lee na banda desenhada Homem-Aranha.

E talvez seja esta a melhor comparação para explicar às crianças e aos pais o que implica ter um smartphone com todas as funcionalidades e conceptividade activas. Podem ser alvo de predadores nas redes, partilhar informações e conteúdos que jamais se apagarão da internet.

Os smartphones podem amplificar o bullying e levar a comportamentos de risco em idades onde é difícil compreender os impactos desses comportamentos. E nem estou a falar de esquemas complexos de fraude e crime — daqueles onde até adultos caem.

Também com a inteligência artificial no bolso capaz de propagar mentiras fidedignas, o risco do uso descontrolado explode. Para além dos danos nas crianças como utilizadores, existem todos os potenciais danos a terceiros. Pode uma criança usar o smartphone, comprometendo a nossa liberdade e direitos?

Ainda não definimos as regras de conduta do uso dos smartphones, incluindo a etiqueta perante terceiros. Nem sequer sabemos como agir sendo adultos. Interrompemos uma conversa presencial para atender uma notificação. Qual a prioridade? Uma questão de ética individual, é certo. Se para os adultos isto pode gerar dilemas, imagine-se como será para uma criança.

É urgente reflectir e definir regras para utilização dos smartphones. Será algo gradual? Tal como a cilindrada de uma moto? Será somente em certos locais, usado apenas em casa? Devem poder navegar em toda a internet? Está na hora de abordar este tema com seriedade.

Não se trata de proibir totalmente, mas de compreender a ferramenta e tirar o melhor partido dela, provavelmente incluindo formação para a utilizar em segurança.

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