Festival celebra a infância e o “poder das histórias”

Mercado literário, conversa com escritores e ilustradores, concertos, contos, clown. Festival da Criança realiza-se neste sábado no Porto e celebra carreira da contadora de histórias Clara Haddad

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Festival da Criança celebra os 25 anos de carreira de Clara Haddad Nelson Garrido
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O desejo de levar a Portugal um evento que celebrasse a infância andava há muito tempo na cabeça da percussionista Lulu Araújo. A criadora do Festival da Criança no Brasil, evento que se realiza nesse país desde 2012, tinha uma preferência especial pelo Porto, “cidade-irmã” do Recife, onde nasceu. E quando partilhou a ideia com a amiga e contadora de histórias Clara Haddad, o pensamento foi rápido: “Porque não?” Neste sábado, o Festival da Criança realiza-se no Instituto Pernambuco (Rua das Estrelas, n.º 141), no Porto, entre as 10h30 e as 19h. A entrada é gratuita.

A escolha do ano de 2023 não foi um acaso. É a data de celebração de 25 anos de carreira de Clara Haddad, contadora de histórias e escritora radicada no Porto há 18 anos. Nas suas bodas de prata, quis oferecer à cidade um festival que celebrasse a infância e o “poder das histórias”, com uma programação diversa para os mais novos e famílias: concertos, sessão de contos, mercado literário, conversa com autores e ilustradores, música popular brasileira para crianças, clown. E ainda uma pequena praça da alimentação.

“A arte prepara para a vida e há várias formas de arte. A proposta do festival é não se focar nos contadores de histórias e literatura, mas abraçar outras artes”, disse ao PÚBLICO.

O “cabeça de cartaz” é Álvaro Magalhães, um dos grandes nomes da literatura para a infância em Portugal, que vai participar numa conversa (14h45) com o ilustrador Alexandre Rampazo, a ilustradora Sónia Borges e o autor Carlos Granja. O mote promete reflexões interessantes: “E se os livros para a infância fossem leitura obrigatória para adultos?”

A abertura das portas está marcada para as 10h30, com o mercado literário (venda de livros, ilustrações, fantoches, pinturas faciais). Às 11h, apresenta-se o espectáculo A Cruz do Rufino, do grupo Saaraci Coletivo Teatral, e às 11h30 o comunicador de ciência Miguel Gonçalves revela os Segredos do Universo — Histórias de planetas-anões, batatas voadoras numa odisseia pelos lugares mais espectaculares do nosso sistema solar. Ainda de manhã, há tempo para uma oficina de percussão com Lulu Araújo e Gilu Amaral e uma exibição d’ As Enroladinhas, dupla de palhaças brasileiras.

Já de tarde, às 14h, Ana Catarina Barbosa vai ler literatura e poesia enquanto Enne Marx (Brasil) apresenta e autografa o livro Memórias de Hospital — ​Relatos de uma palhaça apaixonada. Acompanhada de guitarra e percussão, Lilian Raquel leva aos mais novos um repertório de clássicos da música popular brasileira (15h) e As Enroladinhas voltam a apresentar-se (15h45).

O espectáculo Abaeté, do Grupo Cegonha Bando de Criação, é apresentado às 17h e segue-se uma roda de histórias, com os narradores Virgínia Millefiori (Portugal) Luíza Bittencourt (Brasil) e Vítor Fernandes (Portugal). O encerramento, tal como a abertura, cabe às organizadoras Clara Haddad e Lulu Araújo.

Com previsão e chuva para o fim-de-semana, o festival mantém todas as actividades, passando as que estavam previstas para o exterior também para o interior. Os bilhetes para cada sessão devem ser levantados 20 minutos antes do início da mesma, sendo a entrada livre mas condicionada à lotação do espaço.

Preparar para a vida

Ainda menina, em São Paulo, Clara Haddad acompanhava a avó quando ela ia contar histórias na comunidade libanesa. “Cresci a ouvir histórias.” No momento de escolher um curso, voltou-se para as artes cénicas, cinema e televisão, mas o “bichinho” não desapareceu.

Um dia, decidiu mudar de rumo. Agarrar o reportório da avó, investigar e dedicar-se à arte de contar histórias. “Houve quem achasse que estava louca. As pessoas consideravam uma arte menor. Ainda hoje isso acontece”, lamenta.

Ao viajar pelo mundo a contar histórias — já percorreu dez países —, começou a ter vontade de as registar. E incentivada pela escritora Lenice Gomes acabou por fazê-lo — já vai em cinco publicações. “Disse-me que as histórias tinham de morar dentro dos livros, porque são as casas delas.”

“Ouvir histórias prepara para a vida”, acredita a brasileira, preocupada com o recente movimento de alterar literatura, mexendo na linguagem e retirando conflito da narrativa. “A literatura deve ser um espelho da vida. É uma forma segura de abordar temas fracturantes. Através das histórias, podemos preparar a criança para enfrentar as adversidades, lidar com frustrações. A vida é feita de altos e baixos e a literatura deve mostrar isso.”

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