Damasco e Ancara respondem a atentados com raides contra civis no Norte da Síria

Violência intensifica-se depois de um duro ataque contra o regime. Assad enfrenta ainda um movimento de protesto num dos seus bastiões, no Sul da Síria.

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Membros dos Capacetes Brancos, a protecção civil nas zonas da oposição, procuram sobreviventes depois de um ataque num bairro de Idlib YAHYA NEMAH/EPA
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Com as atenções centradas em Israel e na Palestina, o regime de Bashar al-Assad está a bombardear incessantemente zonas residenciais na região de Idlib e de Alepo, no Noroeste da Síria. Em simultâneo, a Turquia intensificou os seus ataques aos curdos sírios: só esta segunda-feira, os ataques turcos fizeram pelo menos 20 mortos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, um dia depois de o Ministério da Defesa de Ancara ter anunciado que matou 58 “militantes curdos” num ataque entre sábado e domingo.

Os ataques das forças leais a Assad, apoiadas pela Rússia, têm aumentado desde quinta-feira, quando um drone disparado contra uma academia militar em Homs fez perto de cem mortos, num golpe duro para o Governo, que há anos não sofria um ataque destas dimensões.

Os grupos armados da oposição ao regime rejeitam qualquer envolvimento, assegurando que nem teriam capacidades para uma operação destas. A resposta de Damasco tem sido castigar as populações das zonas que escapam ao seu controlo. Um balanço do gabinete de assuntos humanitários da ONU (OCHA) refere que entre quinta-feira e domingo “ataques aéreos contínuos atingiram mais de 1100 locais” em Idlib e em Alepo, matando pelo menos 36 pessoas e ferindo mais de 200, incluindo 48 crianças e 38 mulheres.

Os alvos de Assad têm sido “instalações e infra-estruturas vitais, incluindo a principal central eléctrica de Idlib, dez escolas, instalações de saúde, cinco campos, três gabinetes de organizações não governamentais, mercados e mesquitas”, forçando pelo menos 25 mil pessoas a fugir das suas casas – os números reais, alerta a ONU “podem ser muito mais elevados”.

A Turquia, por seu turno, decidiu que todos os alvos identificados com o PKK (Partidos dos Trabalhadores do Curdistão) e com a milícia curda síria YPG (Unidades de Defesa do Povo) são “alvos legítimos”, depois de o PKK ter reivindicado o atentado contra o Ministério do Interior de Ancara, que deixou dois polícias feridos (os dois atacantes morreram) há uma semana.

Braço armado do Partido da União Democrática (PYG, que a Turquia considera um prolongamento do PKK), as YPG são o principal aliado dos Estados Unidos, que as treinaram e armaram, na luta contra os jihadistas e são o grupo dominante das Forças Democráticas Sírias: a coligação da oposição desmente que os responsáveis pelo ataque em Ancara tenham passado pelas zonas onde opera.

Na sexta-feira, depois de um drone turco ter sido derrubado por forças dos EUA na Síria, o director de comunicações do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, garantiu que o seu país não vai “curvar-se perante as ameaças”. “Vamos erradicar o terrorismo, no Norte do Iraque, no Norte da Síria ou em qualquer outro lugar”, afirmou Fahrettin Altun.

Os ataques turcos e principalmente a operação em Homs mostram que a situação na Síria permanece muito mais volátil do que os recentes passos para reintegrar Assad no mundo árabe podiam fazer parecer.

Mais importante é que esta escalada de violência surge na sequência dos protestos de Sweida, o bastião do regime, onde uma greve contra o aumento dos preços do petróleo, em Agosto evoluiu para um movimento de protesto contra Damasco. Uma crise que, segundo uma análise do Centro de Estudos da Al-Jazeera, reflecte a “erosão da autoridade do regime em áreas sob o seu controlo” e “ameaça” transbordar para lá dos limites desta província do Sul do país.

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