Síria: ataque com drone a academia militar faz pelo menos 100 mortos

Ministro da Defesa deixou o local pouco minutos antes do ataque. Forças do regime responderam de imediato com bombardeamentos em zonas residenciais sob controlo da oposição a Assad.

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O ataque em Homs foi um mais sangrentos de sempre contra instalações do exército sírio Reuters/Montagem PÚBLICO

Pelo menos 100 pessoas morreram esta quinta-feira quando um drone foi lançado contra uma academia militar na cidade síria de Homs. O bombardeamento terá acontecido minutos depois de o ministro de Defesa sírio ter saído de uma cerimónia de graduação. Em resposta, o regime lançou ataques sucessivos contra alvos na zona de Idlib, a única que escapa ao seu controlo.

O ataque à academia militar foi um dos mais sangrentos de sempre contra instalações do exército sírio, e não tem precedentes no que toca ao uso de drones num país que enfrentou 12 anos de guerra. Zeina Khodr, jornalista da Al-Jazeera com anos de experiência a acompanhar a Síria, diz que este ataque representa "uma enorme falha de segurança, um golpe para o regime sírio". "Há anos que as forças do Presidente sírio, Bashar al-Assad, não eram atacadas numa operação deste tipo no coração do território controlado pelo governo", nota a jornalista.

O ministro da Defesa da Síria assistiu à cerimónia de graduação, mas saiu minutos antes do ataque, segundo uma fonte de segurança síria citada pela Reuters.

“Depois da cerimónia, as pessoas foram para o pátio e os explosivos atingiram o local. Não sabemos de onde vieram, e os cadáveres ficaram espalhados pelo chão”, disse à agência de notícias um sírio que tinha ajudado a montar decorações na academia para a ocasião.

Imagens partilhadas com a Reuters através da aplicação de mensagens WhatsApp mostravam pessoas - algumas em uniforme e outras em roupas civis - deitadas em poças de sangue num grande pátio. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos confirmou que mais de 100 pessoas foram mortas e 125 ficaram feridas.

No ataque morreram militares e civis, incluindo seis crianças, disse o Ministério da Defesa da Síria em comunicado, acrescentando que grupos "terroristas" usaram drones para o levar a cabo, sem especificar quais. O Exército acusou combatentes "apoiados por conhecidas forças internacionais".

Os ministérios da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da Síria prometeram, em declarações escritas, responder “com toda a força” ao ataque. As forças governamentais sírias efectuaram bombardeamentos na zona de Idlib, controlada pela oposição, durante todo o dia.

"Parece que o regime está a responsabilizar a oposição porque momentos depois deste ataque os aviões começaram a visar áreas residenciais nos enclaves controlados pela oposição do Noroeste do país", descreveu Zeina Khodr.

O Governo intensificou os seus ataques de artilharia e mísseis em localidades dos subúrbios de Idlib, disse à Al-Jazeera Mounir Mustafa, membro da Defesa Civil Síria, um grupo de voluntários conhecido como Capacetes Brancos.

“Os ataques terroristas têm continuado, de forma sistemática, contra mercados e escolas”, denunciou Mustafa. “Entre os alvos há três escolas, uma empresa de electricidade e um centro da Defesa Civil Síria”, explicou. Ao início da noite, os Capacetes Brancos tinham contabilizado seis mortos nestes ataques e a cidade de Idlib estava quase na sua totalidade às escuras.

O conflito na Síria começou com protestos contra o Presidente Bashar al-Assad em 2011, mas a brutal repressão do regime fez com que se transformasse numa guerra total que deixou centenas de milhares de mortos e fez milhões de deslocados.

O Exército sírio ficou debilitado pelos combates e dependeu fortemente do apoio militar da Rússia e do Irão, bem como de milícias apoiados por Teerão no Líbano, no Iraque e noutros países.

Assad reconquistou a maior parte do país, mas uma faixa no Norte, na fronteira com a Turquia, continua nas mãos de grupos armados da oposição, incluindo combatentes jihadistas.

Este ataque surpreendente acontece depois de semanas de manifestações anti-regime em Sweida, no Sul do país. Os protestos, os primeiros de grande dimensão em muito tempo, começaram por ser contra o estado da economia, mas depressa os manifestantes passaram a exigir a queda do regime.

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