Pedido de desculpas a criança negra ignorada em entrega de medalhas chegou 18 meses depois

A nota da federação de ginástica irlandesa é, aponta a mãe da menina, “inútil”, dado o tempo que se passou entre o incidente e o assumir da responsabilidade.

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Vídeo mostra como a ginasta negra foi a única que ficou sem medalha de participação DR
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A federação de ginástica irlandesa emitiu um comunicado em que lamenta a situação da ginasta negra, de 10 anos, ignorada numa cerimónia de entrega de medalhas de participação. Problema é que, avalia a mãe da menina, o pedido de desculpa chegou demasiado tarde.

O instante, registado num vídeo que, recentemente, captou a atenção do mundo (sobretudo depois de comentado pela super medalhada Simone Biles), aconteceu em Maio do ano passado, e a reacção do organismo chegou 18 meses depois.

Na declaração, tornada pública na segunda-feira, a federação diz estar “profundamente arrependida”, condenando “qualquer forma de racismo” e garantindo saber que terá de agir para que “nada como isto volte a acontecer”. Mas a mãe da rapariga, ouvida pela BBC, afirmou que o organismo desportivo só pediu desculpa publicamente 18 meses depois “porque o mundo assim o exigiu”.

“O pedido de desculpas é quase inútil”, avalia. “Passaram-se 18 meses e parece que foram pressionados a apresentar-me um pedido de desculpas.”

O vídeo mostra um conjunto de crianças após o final de uma prova. Uma mulher dá medalhas de participação a todas, ignorando a menina negra — a quem não é entregue uma medalha. A mãe recorda à emissora britânica que assistir ao desenrolar do incidente foi “inacreditável”, explicando que “não acreditava que isto pudesse acontecer nos dias de hoje”.

Na altura, a mãe, que prefere manter o anonimato, temendo represálias, enviou um email à federação, a expor o sucedido, na esperança de receber um pedido de desculpas. Uma breve carta a lamentar a situação, e dirigida “a quem possa interessar”, chegou-lhes um ano depois.

Porém, a mulher que não entregou a medalha à criança terá escrito à Gymnastics Ireland (GI) pouco depois do incidente, com um lamento que esperava que fosse transmitido à família, adianta a BBC. “Quando me apercebi do meu erro”, lê-se na missiva, “voltei a correr para dar à vossa adorável filha uma medalha de participação e pedir desculpa.” Mas estas palavras só chegaram à família há um mês, quando se cruzaram com a juíza num outro evento desportivo.

“[A GI] tentou encobrir o caso como se não tivesse acontecido”, acusa o pai da ginasta, também em declarações à BBC.

A GI disse à BBC que admite que demorou “demasiado tempo”, mas justificou que “os atrasos ocorreram por várias razões, incluindo por erro humano, ameaças de acção judicial, intervenção de terceiros e o nosso próprio entendimento de que se tratava de uma queixa dos pais contra a funcionária”.

O caso conquistou ainda mais mediatismo depois de conhecido o comentário de Simone Biles, a ginasta norte-americana que acumula medalhas (19 de ouro, quatro destas olímpicas) e reconhecimento internacional. Biles recebeu o vídeo de um activista americano de direitos civis, accionado pelo grupo Sport Against Racism Ireland, e depressa entrou em contacto com a família, enviando um curto vídeo em que se solidariza com a criança e os seus pais. “Fiquei completamente chocada”, declarou a ginasta.

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