Oito em cada dez filhotes de urso-pardo morrem à fome no Japão

Aquecimento do mar terá causado uma escassez de salmão na península de Shiretoko, no Japão. Estima-se que oito em dez crias de urso-pardo nascidas na região em 2023 tenham morrido de desnutrição.

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Cerca de 500 ursos-pardos habitam a península de Shiretoko, em Hokkaido, no Japão boymeetsapple/ Wiki Commons
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Estima-se que oito em dez crias de urso-pardo nascidas em 2023 numa zona remota no Norte do Japão tenham morrido de desnutrição, devido à escassez de salmão. Os cientistas atribuem este cenário ao aumento da temperatura do mar, uma das várias consequências da crise climática, refere o diário britânico The Guardian.

O salmão-rosado constitui, juntamente com bolotas, a base alimentar dos cerca de 500 ursos-pardos que habitam a península de Shiretoko, em Hokkaido. Esta zona do Japão, classificada como Património Natural Mundial da UNESCO em 2005, abriga uma das maiores populações da espécie do mundo.

Cientistas adiantam que as temperaturas da superfície do mar que banha a costa de Hokkaido se mantiveram acima dos 20 graus Celsius entre meados de Julho e início de Agosto de 2021, ou seja, 5 graus Celsius acima da média para aquela época do ano, de acordo com o The Guardian.

Investigadores da Universidade de Hokkaido alertaram que, se o aquecimento global continuar no ritmo actual, a temperatura da água do mar ao redor da ilha deverá aumentar até 10 graus Celsius por volta da década de 2090, em comparação com os níveis da década de 1980.

Filhotes famintos

As autoridades locais reagiram com alarme, refere o The Guardian, quando um operador de embarcações turísticas avistou este mês um filhote de urso-pardo faminto. A cria procurava alimento na costa leste da península, revirando pedras e vasculhando pilhas de algas marinhas.

“Alguns ursos ficaram muito magros”, disse Katsuya Noda, o operador do barco turístico, ao jornal japonês Asahi Shimbun. “Eles estão a passar por momentos difíceis, porque não há peixes nos rios, assim como não houve no ano passado.”

Há mais de uma década, os ursos da região japonesa estão a enfrentar escassez de alimentos, uma vez que o salmão-rosado não voltou os rios no período habitual, afirmou ao diário japonês Masami Yamanaka, investigador da Fundação Shiretoko para a Natureza.

“Este ano, além da falta de salmão, as bolotas também tiveram uma colheita fraca”, disse Yamanaka. “Estima-se que 70 a 80 por cento dos filhotes nascidos este ano tenham morrido. É realmente uma situação séria.”

A maioria dos ursos perde peso durante o Verão, uma vez que não há plantas suficientes. A chegada do salmão-rosado ajuda estes animais a recuperar o peso antes de seguirem para as montanhas, onde têm a oportunidade de devorar bolotas (entre outros alimentos) e, depois, hibernar durante o Inverno.

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