Identidade de género na adolescência: quem sou e do que gosto?

A normalização da descoberta da identidade de género pode ajudar a promover uma cultura de aceitação e inclusão.

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Os profissionais de saúde, educadores e outros adultos de confiança podem desempenhar um papel essencial na vida de um adolescente Getty Images
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A adolescência é muitas vezes associada a uma altura difícil, cheia de dores de cabeça e preocupações. No entanto, este é um período de desenvolvimento crucial. É nesta fase que ocorrem eventos significativos para a formulação da identidade, tais como o questionamento pelo mundo em redor, construção de valores e crenças, bem como descobertas acerca da identidade sexual e de género.

Este conjunto de eventos pode ser assustador e assoberbante para alguns pais, que subitamente ouvem expressões como “não binário”, “pansexual”, “cisgénero”, e parece que existe um novo mundo por descobrir. A dificuldade na compreensão destas mudanças muitas vezes representa adversidades na relação com os filhos, conflitos e procura de ajuda.

Na realidade, todos estes conceitos fazem parte do dia a dia dos adolescentes, que podem ter muito para nos ensinar, e procuram fazê-lo. A compreensão da identidade sexual é normativa na adolescência, faz parte deste período de desenvolvimento, e a normalização e a compreensão deste processo podem ser enriquecedoras para as relações familiares e para a manutenção dos pais como recurso de apoio, estrutura e cuidado, tão importantes da adolescência.

A normalização da descoberta da identidade de género pode ajudar a promover uma cultura de aceitação e inclusão, permitindo criar um ambiente onde os jovens se sintam à vontade para explorar sua identidade de género sem medo de serem julgados ou rejeitados. Esta abordagem pode ajudar a prevenir situações de crise, que muitas vezes resultam de stress e ansiedade internalizada como consequência de sentimentos de vergonha, com efeitos negativos na saúde mental destes jovens.

Além das consequências emocionais resultantes de sentimentos de vergonha, exclusão e rejeição, por vezes, os jovens que exploram a sua identidade sexual e de género deparam-se com dificuldades consideráveis, como a disforia de género, que está caracterizada no Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais como o sofrimento significativo sentido em relação à identidade de género. Este diagnóstico ocorre quando existe uma incongruência entre a identidade de género e o género atribuído à nascença, tendo muitas vezes como consequência sentimentos intensos de ansiedade, tristeza e até depressão. Nestas situações, é muito importante recorrer a acompanhamento especializado em psicologia e/ou pedopsiquiatria, de modo a trabalhar estratégias que possam apoiar o adolescente na construção da sua imagem e identidade, tendo como objetivos o aumento da autoestima, capacidade de regulação emocional e comunicação.

Os profissionais de saúde, educadores e outros adultos de confiança podem desempenhar um papel essencial na vida de um adolescente. Ao normalizar a descoberta da identidade de género, estes adultos podem criar um ambiente em que os jovens se sintam à vontade para procurar ajuda, fazer perguntas e discutir a suas preocupações. Deste modo, os adultos que rodeiam os jovens poderão aprender mais sobre os contextos em que se inserem, estabelecer melhores relações de confiança, sem julgamento, de modo a apoiar e cuidar da melhor forma, neste processo desafiante.

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