Para onde foram os 2 milhões de dólares de manutenção das barragens que destruíram Derna?

As barragens, construídas na década de 1970, nunca terão tido obras de manutenção, apesar de um relatório dizer que foi destinada uma verba para isso em 2012 e 2013. Procuradoria líbia abriu inquérito

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O colapso das barragens destruiu grande parte da cidade costeira de Derna ZOHRA BENSEMRA/Reuters
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O procurador-geral da Líbia, Al Sediq al Sur, anunciou a abertura de uma investigação sobre o colapso das duas barragens que causaram a inundação da cidade portuária de Derna e resultaram na morte de milhares de pessoas durante a tempestade Daniel. Al Sur explicou em declarações à imprensa que a investigação irá analisar a actuação das autoridades locais e do Governo líbio, especialmente no que diz respeito aos fundos destinados à manutenção das barragens.

"Posso garantir aos cidadãos que qualquer pessoa que cometeu erros ou foi negligente será alvo de medidas firmes da Procuradoria e enfrentará acusações criminais para ser julgada", declarou durante uma conferência de imprensa realizada na sexta-feira à noite, de acordo com a Al-Jazeera.

Um relatório oficial de 2021 indicava que as duas barragens, construídas na década de 1970, não tinham recebido qualquer tipo de manutenção, apesar de mais de dois milhões de dólares terem sido destinados para esse fim em 2012 e 2013. Em 2007, foi contratada uma empresa turca, Arsel Construction Company Limited, para realizar a manutenção e construir outra barragem adicional. O site da empresa afirma que os trabalhos foram concluídos em Novembro de 2012.

Enquanto isso, as equipas de resgate continuam a busca de possíveis sobreviventes entre os escombros, mesmo após quase uma semana de um desastre que matou mais de 11.300 pessoas, embora haja diferentes fontes com diferentes números.

Neste sábado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que "foram recuperados e identificados os corpos de 3.958 pessoas", aos quais se somam outros 9.000 desaparecidos. Além disso, a OMS anunciou a chegada de 29 toneladas de ajuda médica.

"É um desastre de proporções épicas", afirmou Ahmed Zuiten, representante da OMS para a Líbia. "Estamos profundamente tristes pela perda de milhares de vidas", acrescentou.

Por outro lado, o director do Centro de Combate a Doenças da Líbia, Haider al Saeí, explicou num discurso transmitido pela televisão neste sábado que pelo menos 150 pacientes sofrem de diarreia devido ao consumo de água não potável em Derna. Por isso, pediu aos moradores da região para beberem apenas água engarrafada que está a ser enviada do exterior.

Enquanto isso, a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho alertou que a ajuda começou a chegar e destacou o risco representado pelas munições não detonadas do conflito interno na Líbia.

"Obter a ajuda que está no aeroporto de Derna é um problema. Sabemos que as estradas foram muito afectadas", disse Caroline Holt, directora de Desastres, Clima e Crises da federação, em declarações à Al Jazeera. "Sabemos que haverá problemas de segurança. As minas que antes estavam claramente mapeadas podem estar agora noutros lugares. É um problema adicional de segurança tanto para a população de Derna quanto para os que vêm de fora", enfatizou.

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