Menor suspeita de matar irmã terá dado informações falsas para despistar polícia

Discussão por causa de telemóvel terá acabado com irmã de 16 anos a matar a outra à facada. Suspeita terá escondido o corpo dois a três dias debaixo de cama e tê-lo-á enterrado nas traseiras de casa.

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Polícia Judiciária foi chamada a investigar o caso Daniel Rocha
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A jovem de 16 anos suspeita de ter matado a irmã três anos mais velha, em Peniche, terá transmitido informações falsas ao pai sobre uma alegada viagem da vítima, Lara, a Lisboa para ir ter com um hipotético namorado com o objectivo de despistar as autoridades.

Foi esta a pista que a PSP seguiu quando começou a investigar o desaparecimento de Lara, participado pelo pai da jovem a 19 de Agosto passado numa esquadra local. O homem, que apresentará uma saúde frágil e um passado de dependência de álcool, transmitiu à polícia a informação que a filha mais nova lhe dera e foi esse o caminho inicialmente seguido pelas autoridades.

Quando as incongruências se começaram a avolumar, o Ministério Público decidiu chamar a Polícia Judiciária, que em cinco dias encontrou o corpo da jovem e deteve a irmã mais nova por suspeita de homicídio qualificado e ocultação de cadáver. A menor será presente esta sexta-feira a um juiz de instrução, em Leiria, que lhe fará o primeiro interrogatório judicial e aplicará as medidas de coacção que considerar adequadas.

Segundo a cronologia feita pelo coordenador da PJ de Leiria, Avelino Lima, numa conferência de imprensa, o assassinato terá ocorrido a 15 de Agosto. Ou seja, quando o pai participou o desaparecimento à PSP já a filha adolescente teria morto a irmã à facada e enterrado o seu corpo num terreno nas traseiras da casa onde os três moravam, em Peniche. A violência destoa da importância do que esteve na base da discussão: uma teria escondido um telemóvel que ambas queriam.

A família vivia com poucos recursos, numa habitação onde além do dinheiro faltava higiene e condições de salubridade. Só assim se compreende que a Judiciária diga que o corpo terá sido escondido durante dois a três dias no interior da casa, sem que o pai das duas jovens se apercebesse disso. A PJ encontrou vestígios biológicos por baixo de uma cama da habitação, onde o corpo terá sido colocado.

Os investigadores acreditam que o corpo terá sido depois arrastado pela jovem, sozinha, o que terá sido possível porque a irmã – que como a mãe sofria de nanismo – media e pesava o equivalente a uma criança média de sete anos. Apesar de a suspeita ter tentado lavar o interior da habitação não conseguiu ocultar os vestígios e quando estes foram detectados pela Judiciária acabou por admitir ter matado a irmã. De seguida, encaminhou os inspectores para o local onde a enterrara, tendo o corpo sido exumado esta quarta-feira à noite e conduzido para o gabinete médico-legal de Torres Vedras para a realização da autópsia.

O coordenador da PJ de Leiria, Avelino Lima, explicou que as suspeitas voltaram-se para a irmã por causa do comportamento que esta exibiu no momento das buscas: "A cada passo que a polícia dava, à medida que encontrava mais pistas, dava esses sinais. Não é uma ciência exacta, mas são coisas de que nos apercebemos no terreno."

A Judiciária indica que não desconfia do envolvimento de terceiros no crime de homicídio qualificado de que a jovem de 16 anos é suspeita, nem na ocultação do cadáver. "Era uma família problemática", justifica o coordenador da PJ de Leiria. A "dinâmica" da família permitia que a irmã mais nova pudesse cometer estes crimes sem que o pai se apercebesse disso, acredita.

Segundo a PJ, não há indícios de que existisse um conflito prévio de relevo entre as duas irmãs. Contudo, em declarações ao Jornal de Notícias, o pai das raparigas admite que a relação entre as duas não era boa. "Andavam sempre à zaragata uma com a outra", afirmou.

A menor terá usado uma faca de uso doméstico para matar Lara, mas a arma do crime ainda não foi recuperada. A suspeita, que frequentava o ensino secundário sem registo de incidentes, era considerada uma menor em risco, estando activo no Juízo de Família e Menores das Caldas da Rainha um processo de promoção e protecção, informou ao PÚBLICO a presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Peniche, Carla Lopes. A responsável nega a existência de qualquer processo naquela instituição relacionado com as duas irmãs. A mãe de ambas, também residente em Peniche, manteria contacto com as filhas, apesar de não viver com elas.

As autoridades não têm indicações de que a adolescente detida tivesse um histórico de problemas do foro psiquiátrico que possam estar associados com a prática deste crime, mas Avelino Lima defendeu que a alegada homicida "merece justiça e uma completa percepção do que levou a este acontecimento". "Uma perícia da saúde mental pode ser necessária", admitiu o responsável pela PJ de Leiria.

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