Comportamento de jovem nas perícias em casa fez PJ suspeitar que tinha matado irmã

Durante as perícias da Judiciária em casa, o comportamento da jovem de 16 anos deu sinais de que estaria envolvida. Tese inicial era de que a vítima tinha ido a Lisboa para estar com um namorado.

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Alegada autora lavou o interior da casa para ocultar pistas ilbusca/getty (imagem de arquivo)
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A jovem de 16 anos suspeita de ter matado a irmã três anos mais velha deu sinais de que estava envolvida no desaparecimento da vítima durante as perícias de recolha de provas na casa da família, nas quais esteve presente. Em declarações aos jornalistas, no departamento de Investigação Criminal de Leiria, o coordenador da Polícia Judiciária da cidade, Avelino Lima, explicou que as suspeitas voltaram-se para a irmã por causa do comportamento que exibiu no momento das buscas: "A cada passo que a polícia dava, à medida que encontrava mais pistas, dava esses sinais. Não é uma ciência exacta, mas são coisas de que nos apercebemos no terreno."

A Polícia Judiciária começou a investigar o caso na sexta-feira passada, quando a PSP desconfiou que Lara, a vítima, não estava meramente desaparecida após alegadamente ter viajado para Lisboa a fim de visitar um hipotético namorado. Quando a investigação em torno dessas informações — que foram prestadas pela alegada homicida e pelo pai da vítima às autoridades — encontrou "incoerências e incongruências" nessa narrativa, a Polícia Judiciária foi chamada a intervir e as atenções voltaram-se para o seio familiar.

Estas incongruências não foram reveladas na conferência de imprensa da PJ porque o caso está em segredo de justiça. Mas foram detectadas depois das diligências realizadas em Peniche, Caldas da Rainha e Grande Lisboa. De acordo com o comunicado da PJ, "as vivências da jovem dada como desaparecida" e o despiste em torno das "informações obtidas" numa fase inicial pelas autoridades levaram a polícia a crer que "a factualidade, que se perspectivava trágica, teria ocorrido na área da residência". A autoria do crime terá mesmo sido reconhecida pela irmã da vítima, principal suspeita no caso, quando foi abordada pelos inspectores do Departamento de Investigação Criminal de Leiria nas perícias que realizaram na casa da família em Peniche.

A morte de Lara terá ocorrido na casa onde as duas irmãs habitavam com o pai (e onde a mãe não era presença regular) a 15 de Agosto durante o dia — quatro dias antes de a alegada homicida e do pai se terem dirigido às autoridades para comunicar o desaparecimento da mulher. Nos primeiros dois a três dias depois da morte, de acordo as informações prestadas por Avelino Lima, o cadáver “esteve oculto no domicílio”. Depois, o corpo foi arrastado até às traseiras da casa da família e enterrado num terreno arenoso. A seguir, a suspeita terá lavado a casa na tentativa de ocultar provas.

Não haverá mais suspeitos

Apesar do intervalo durante o qual o corpo esteve a decompor-se no interior da casa — a PJ não quis detalhar onde —, a Judiciária não desconfia do envolvimento de terceiros no crime de homicídio qualificado de que a jovem de 16 anos é suspeita, nem na ocultação do cadáver. "Era uma família problemática", justifica o coordenador da PJ de Leiria: a "dinâmica" da família permitia que a irmã mais nova pudesse cometer estes crimes sem que o pai se apercebesse disso. "A investigação não está fechada, mas todos os indícios recolhidos apontam para a não intervenção de mais ninguém", disse Avelino Lima em conferência de imprensa.

A irmã de 16 anos terá usado uma faca de uso doméstico para matar Lara, mas a arma do crime ainda não foi recuperada. Questionado sobre o que esteve na origem do crime, o responsável pela PJ de Leiria confirmou que ele estava relacionado com "um motivo completamente fútil": o homicídio terá ocorrido depois de "uma discussão sobre a posse de um telemóvel". As autoridades não têm indicações de que a suspeita tivesse um histórico de problemas do foro psiquiátrico que possam estar associados com a prática deste crime, mas Avelino Lima defendeu que a alegada homicida "merece justiça e uma completa percepção do que levou a este acontecimento": "Uma perícia da saúde mental pode ser necessária", admitiu.

A irmã da vítima, detida na noite de quarta-feira após a localização do corpo da jovem desaparecida, será presente a um juiz de instrução criminal nesta sexta-feira. Em comunicado, a Judiciária reforça as conclusões a que a investigação conseguiu, para já, chegar. “Concluiu-se que a detida, jovem de 16 anos de idade, por motivo fútil, utilizando arma branca, desferiu número de facadas não apuradas, provocando a morte da irmã, que havida sido dada como desaparecida”.

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