Toda a população europeia pode estar exposta ao químico bisfenol A

Mesmo em pequenas doses, este químico que se encontra em recipientes de comida (como garrafas de água e enlatados) pode ser prejudicial à saúde.

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O bisfenol A encontra-se numa grande variedade de produtos, desde recipientes de metal e plástico até garrafas de água e canalizações Dima Korotayev/REUTERS

A Agência Europeia do Ambiente (AEA) alertou nesta quinta-feira para a alta exposição dos europeus ao químico sintético bisfenol A (BPA), que é usado numa grande variedade de produtos, desde recipientes de metal e plástico até garrafas de água e canalizações, e é um risco potencial para a saúde de milhões de pessoas.

O alerta baseia-se num estudo de biomonitorização humana em 11 países, Portugal incluído. Um comunicado da AEA diz que entre 71% e 100% das pessoas que participaram nesse estudo tinham uma exposição ao BPA “muito acima dos níveis aceitáveis de segurança para a saúde”. “A exposição na Europa ao BPA é muito elevada e constitui um potencial risco para a saúde”, diz o documento.

A AEA salienta que os valores usados para quantificar a análise de urina em 2756 adultos de onze países europeus foram abaixo daqueles que normalmente são usados como referência. Por isso, é provável que em todos os países 100% da população tenha uma exposição ao BPA superior aos níveis de segurança.

O BPA é um composto usado nos plásticos (para os tornar mais duros) e está em recipientes de alimentos e até mesmo em brinquedos. A forma de exposição mais comum a este químico na Europa é o consumo de alimentos enlatados.

Perigoso em pequenas doses

Em Abril, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) reavaliou os riscos para a saúde resultantes da exposição ao BPA e concluiu este químico pode ser prejudicial para o sistema imunitário mesmo em pequenas doses. Isto além dos já conhecidos efeitos nocivos como a desregulação endócrina, a redução da fertilidade e as reacções alérgicas cutâneas.

"Temos de levar a sério os resultados desta investigação e tomar mais medidas a nível da União Europeia (UE) para limitar a exposição a químicos que representam um risco para a saúde dos europeus”, afirmou a directora executiva da AEA, Leena Ylä-Mononen, citada no comunicado.

Os dados agora divulgados mostram que a exposição ao BPA continua a ser demasiado elevada, apesar de terem sido introduzidas algumas medidas para a limitar desde 2015. Em alguns países, como a França, o uso de BPA é proibido em recipientes de alimentos. A UE e os Estados Unidos restringiram a sua utilização e estão a considerar restrições mais drásticas, embora estas ainda não tenham sido postas em prática.

Em Junho, a AEA já tinha salientado que tinha sido constatada a presença de bisfenol A no organismo de mais de 90% dos participantes de um estudo, alertando para a continua produção e consumo na Europa de “grandes quantidades de produtos químicos”.

Em Abril passado organizações ambientalistas alertavam para a proliferação de produtos químicos nocivos para a saúde, alguns até em fraldas para bebés, um ano depois de a Comissão Europeia ter anunciado a proibição de milhares de substâncias tóxicas.

Em Abril de 2022, a Comissão publicou um roteiro de restrições, para servir de base a uma lista de substâncias químicas a serem proibidas. Entre outras restrições estavam por exemplo os retardadores de chama, frequentemente relacionados com o cancro, ou os vários tipos de bisfenóis. Mas este Verão os ambientalistas alertaram que a Comissão pode ficar muito aquém do prometido, indo de encontro às exigências do poderoso lobby da indústria química.

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