Biodiversidade dos rios europeus estagnou na última década, revela estudo na Nature com portugueses

Evolução foi travada por alterações climáticas, espécies invasoras ou poluentes emergentes, como fármacos e microplásticos. Estudo na Nature contou com a participação de cientistas de Coimbra.

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Praia fluvial do rio Sabor, em Bragança Adriano Miranda
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Na União Europeia, nas últimas três décadas e em particular após a publicação da Directiva-Quadro da Água, em 2000, têm vindo a ser aplicadas diversas medidas de mitigação para combater a degradação dos rios e dos seus ecossistemas. Apesar das tendências positivas nos anos 1990, a recuperação da biodiversidade dos rios estagnou a partir de 2010.

São estas as conclusões de um estudo que envolveu 96 investigadores europeus de 70 instituições, coordenada por cientistas do Centro de Investigação e Museu de História Natural Senckenberg, em Frankfurt, Alemanha. Em Portugal, o estudo contou com a participação de Maria João Feio e Manuel Graça, investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

O estudo procurou analisar se houve ao longo das últimas décadas - e, se sim, porquê - uma recuperação da biodiversidade ribeirinha ao longo do tempo, em resultado das medidas de mitigação implementadas na União Europeia. Os resultados foram publicados esta segunda-feira na revista Nature.

Os ganhos em biodiversidade nas décadas de 1990 e 2000, descreve o comunicado da UC, “reflectem a melhoria da qualidade físico-química da água, devido à implementação de sistemas de tratamento mais eficazes e projectos de reabilitação ou restauro ecológico”.

Foi possível concluir que “houve realmente um pequeno aumento do número de espécies (0,73% por ano), riqueza funcional (2,4% por ano) e abundância (1,7% por ano) nas comunidades de macroinvertebrados aquáticos”, explica a investigadora Maria João Feio, em comunicado da Universidade de Coimbra (UC).

Apesar destas tendências positivas, o número de espécies diminuiu em 30% dos locais. “Os ecossistemas ribeirinhos onde se verificou menor recuperação foram os localizados a jusante de barragens, em áreas urbanas e terrenos agrícolas”, descreve a investigadora. Além disso, as comunidades de invertebrados localizadas em zonas com aquecimento mais rápido “tiveram menor recuperação, o que mostra os impactos das alterações climáticas, nomeadamente o efeito do aumento da temperatura”, afirma Maria João Feio.

Já a desaceleração na recuperação da biodiversidade ribeirinha da década de 2010 mostra que “as medidas actuais não são suficientes, traduzindo-se cada vez menos em resultados positivos na recuperação da biodiversidade”.

Esta estagnação, refere a investigadora Maria João Feio, “ocorreu porque surgiram também novas ameaças, nomeadamente poluentes emergentes, como fármacos e microplásticos, alterações climáticas e espécies invasoras”. O número de espécies não nativas, encontradas em 69 % dos locais analisados, tem vindo a aumentar de forma acentuada, a um ritmo médio de 4% por ano.

Perante estes resultados, os investigadores consideram “urgente” continuar o restauro ecológico baseado na “renaturalização e recuperação das espécies, não meramente estético, ou focado no escoamento, ou na remoção de nutrientes da água, mas também de um novo planeamento focado nos novos impactos, tais como poluentes emergentes, alterações climáticas e espécies invasoras”.

Por fim, a investigação sublinha a importância da monitorização ecológica dos rios, permitindo fazer estudos que abordem as evoluções ao longo do tempo.

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