Portas, Monteiro e Cristas juntos na rentrée: o CDS “não se rende nem se funde”

Antigos líderes do partido procuraram demarcar o CDS da concorrência à direita. Lobo Xavier avisa PSD para a necessidade de construir uma “alternativa de futuro” com os centristas.

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Nuno Melo juntou três ex-líderes do CDS e um militante histórico na rentrée do partido LUSA/RODRIGO ANTUNES
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Abraços, palmadas nas costas, sorrisos e beijinhos. Foi num clima de reencontro, com um misto de nostalgia e de esperança, que dezenas de militantes democratas-cristãos se juntaram este sábado de manhã no largo da sede nacional do CDS, em Lisboa, para ouvir uma mensagem de resistência. “Esta direita e centro-direita faz muita falta a Portugal, a uma alternativa de Governo e ao nosso sistema político”, resumiu o antigo líder Paulo Portas, que esteve ao lado e aplaudiu o seu antecessor no cargo Manuel Monteiro (de quem se manteve afastado durante décadas) e a sucessora Assunção Cristas.

Em frente ao palco, montado na rua, com o propósito da apresentação da proposta de actualização da declaração de princípios escrita em 1974, o CDS juntou nesta rentrée antigos deputados, governantes e até ex-militantes como Adolfo Mesquita Nunes, e actuais autarcas e dirigentes. “Nos momentos difíceis, o CDS não se rende nem se funde, o CDS resiste, combate. Foi sempre assim”, afirmou o actual líder Nuno Melo, arrancando os primeiros aplausos, depois das palmas à leitura de uma mensagem em que o antigo ministro António Pires de Lima, que se desfiliou em 2021, anunciou o “regresso ao voto” nas próximas europeias.

Defendendo que o CDS “há-de voltar” à Assembleia da República, Nuno Melo, ao olhar para a plateia, começou o discurso com humor: “Para partido que acabou, não está mal.”

Com as europeias de 2024 como a prova de vida decisiva, Paulo Portas traçou as linhas distintivas do CDS face a outros partidos que concorrem no seu espaço político, sobretudo o Chega. “Sem o CDS haverá menos ideias e mais gritaria, sem o CDS haverá menos moderados e mais extremistas, sem o CDS haverá menos racionalidade mais demagógica, mais quadros de qualidade e mais aparelhistas medíocres na política, haverá menos concórdia e respeito pelos outros, e mais crispação, mais divisão, mais insultos e mais ódios. Sem o CDS haverá menos viabilidade para uma alternativa”, afirmou, emocionado, o actual comentador televisivo e potencial candidato às presidenciais.

Antes de Portas, Manuel Monteiro também tinha demarcado o CDS do Chega e da Iniciativa Liberal, uma linha política que também se reflecte na nova versão da declaração de princípios. “Não recebemos lições de recém-chegados à política – respeitamos, estão no seu direito –, mas não recebemos lições de defesa do patriotismo, da propriedade, de liberdade económica, não confundimos liberdade com libertarismo, não confundimos defesa de valores com estigmatização de pessoas pela sua cor, pelas suas crenças. Não recebemos lições de pessoas que são católicas ao domingo mas que fogem do Papa quando vem a Portugal”, afirmou, numa farpa ao líder do Chega, André Ventura.

A mesma mensagem de moderação já tinha sido sublinhada por Assunção Cristas, que liderou o CDS entre 2016 e 2020. “A moderação parece que caiu em desuso, mas é capacidade de ouvir, de resolver sem ir para os extremos”, defendeu, assumindo que este sábado “é um dia histórico”.

Na apresentação da propostas de actualização de princípios, António Lobo Xavier, que é conselheiro de Estado, lembrou, como militante de há longa data, que o CDS é uma casa de “acolhimento” – dos liberais aos conservadores – e que o partido “quer contribuir para uma alternativa de Governo a Portugal”.

O antigo líder parlamentar deixou mesmo um recado ao tradicional parceiro de governação: “Poderá acontecer que, por razões tácticas, conjunturais, o PSD não tenha a perspectiva de que tenha de trabalhar para uma alternativa no futuro. A alternativa passa por Nuno Melo e CDS. O voto útil é no CDS. Quem quiser contribuir para uma alternativa séria ao PS deve votar no CDS nas próximas europeias”, defendeu, sublinhando que as eleições para o Parlamento Europeu “são o primeiro passo para uma alternativa nas legislativas”.

Como em muitas campanhas do CDS, a convenção terminou ao som do hino do partido cantado por Dina, ao mesmo tempo que, em momentos inéditos, os antigos líderes Portas e Monteiro se cumprimentavam. Faltaram Francisco Rodrigues dos Santos e José Ribeiro e Castro, alegando motivos pessoais.

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