Excentricidade de Take Kubo começa a render juros

Internacional japonês de 22 anos trocou milhões sauditas para viver o sonho da Champions, onde será adversário do Benfica.

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Take Kubo é ameaça para Benfica na sonhada Champions EPA/Javi Colmenero
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Contra a corrente dos inesgotáveis milhões com que a Arábia Saudita inundou o mercado de transferências neste Verão, um jovem japonês de 22 anos manteve-se imperturbável: Takefusa Kubo rejeitou a garantia “vitalícia” de segurança financeira, oferecida pelo Al Hilal de Jorge Jesus, para cumprir o inestimável sonho de poder viver por dentro as emoções da Liga dos Campeões.

Com uma Liga Europa no currículo, conquistada em 2021 ao serviço do Villarreal — na final com o Manchester United —, o jovem atacante cedido pelo Real Madrid à Real Sociedad (adversário do Benfica no Grupo D), esteve em plano de destaque no triunfo, por 5-3, dos bascos frente ao Granada. Take Kubo bisou (9’ e 44’), emprestando alma e magia a uma equipa que só nos instantes finais, já sem o internacional nipónico em campo, permitiu uma reacção que acabou por beliscar a superioridade dos bascos.

Mas, voltando ao início, como explicar a decisão de Take nos dias que correm: A idade e irreverência podem ter tido peso, embora outros igualmente jovens tenham optado pela via mais segura. A realidade é que Take Kubo andou muito para chegar onde está, pelo que seria sempre inglório prescindir de algo tão precioso quando a oportunidade de brilhar no maior palco das competições de clubes se apresenta mesmo à mão de semear.

Recuemos, pois, 13 anos, quando Take mal podia com a mala em que carregou até Barcelona todos os sonhos de um menino de nove anos... Com futebol dos pés à cabeça. Potencial aperfeiçoado ao longo de quase cinco épocas, até regressar a casa e ao FC Tokyo, onde começou a dar nas vistas, ao ponto de garantir nova aventura em Espanha, então com as cores do Real Madrid, clube a que ainda mantém um vínculo relevante.

Mas assinar com os “reis” da Champions não é garantia de entrada directa no rol de galácticos. Antes, é preciso conquistar um lugar ao sol. Maiorca, Villarreal e Getafe foram a resposta ao desafio colocado a Take Kubo, que na época passada foi cedido pela quinta vez, passando a vestir as cores da Real Sociedad, quarta classificada, posição que o japonês ajudou a construir com nove golos e sete assistências. O suficiente para o Al Hilal lhe propor um contrato de quatro anos e um cheque de 160 milhões.

Quantia irrecusável para o comum mortal, mas não para Take, que nas redes sociais surge na companhia de dois mitos do futebol japonês, a quem poderá sempre pedir um bom conselho: Maya Yoshida (LA Galaxy) e o eterno “King Kazu” Miura, o jogador mais velho (56 anos) em actividade, actualmente na Oliveirense.

Barcelona arrependido

Take Kubo resistiu aos encantos sauditas, quando até é muito fácil embarcar numa aventura à boleia de grandes nomes como Cristiano Ronaldo, e às pressões legítimas que o próprio Real Madrid poderia exercer para receber os 63 milhões da cláusula de rescisão (os “merengues” alienaram, há um ano, 50% do passe de Take Kubo por seis milhões de euros, mantendo a opção de recompra por 10 milhões, pelo que ficariam sempre como interlocutores únicos com o Al Hilal).

Para trocar tudo isto por um simples sonho é preciso estofo de campeão, o que Take parece disposto a confirmar ter de sobra, a começar pelos três golos neste arranque da Liga espanhola, o que faz dele uma ameaça para Benfica, Inter de Milão e Salzburgo... E um alvo para emblemas como o campeão italiano, Nápoles, e o próprio campeão espanhol, Barcelona, que ainda tentou recuperar o japonês formado na famosa La Masia. Xavi Hernández quis o extremo direito que, na pior das hipóteses, ficará para sempre famoso por recusar os milhões sauditas.

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