Basta de seguidismo e de respeitinho pelas lideranças

Na política ativa, em termos gerais, há três tipos de personagens no PS: os yes men; os familiares de outros familiares; e os académicos.

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Há muito me vem preocupando a falta de discussão política nas sedes partidárias. Pessoalmente, só conheço uma, mas o que vem à luz do dia faz antever que esta falta é generalizada, e não um problema exclusivo do partido que é Governo.

A falta de notáveis nos partidos políticos, mormente nos dois maiores do nosso sistema político partidário, a par da não renovação de quadros, aliada à vontade de fuga a sete pés que os mais capazes demonstram quando o assunto é a assunção de responsabilidades políticas, faz temer pelo futuro próximo do nosso país e do nosso sistema democrático.

Na política ativa, neste momento, no PS, na generalidade, estão três tipos de personagens:

  • os yes men, que começaram a aparecer nas sedes das "Jotas" e, entretanto, se foram hipotecando, com pouco valor facial é certo, àqueles que, em cada momento, podiam escolher e distribuir poder, cargos ou projeção;
  • os familiares de outros familiares que ou fizeram parte daquele grupo ou já desempenharam funções políticas anteriormente – e, entretanto, as posições vão-se transmitindo como que por sucessão ou linhagem;
  • e os académicos, que, naturalmente, muito respeito e que, por certo, estão a fazer muita falta nas suas cátedras e na formação de alunos nas universidades de onde vieram, mas são de pouca ou nenhuma valia no Governo, desde logo porque a maioria deles é chamada a tomar decisões sobre sistemas que só da biblioteca conhece.

A rentrée está aí. O Pontal já passou e permitiu que o partido que lidera o Governo, com pouco, tenha já desmontado a questão da diminuição da carga fiscal tirada da cartola por Luís Montenegro, que, à cautela, levou ou foi levado pelo braço de Carlos Moedas. Lá diz o ditado “quando não os podes vencer, junta-te a eles.”

Vem aí a rentrée do PS, a decorrer entre 6 e 10 de setembro, em Évora, com a “Academia Socialista”, na qual António Costa, com facilidade, fará um brilharete discursivo, ao estilo a que já nos habituou, mas que não trará medidas para aquilo que falta ao partido, ao sistema partidário e ao país.

É forçoso que se ressuscite a discussão política, nas sedes dos partidos e na comunidade em geral. É necessário à sobrevivência dos partidos e da democracia que se volte a discutir ideologia, projetos de Governo para o país que possam traçar o rumo para aquilo que queremos para o nosso futuro coletivo, pondo fim à navegação mais ou menos à vista por que se têm pautado os últimos governos.

Basta de seguidismo e de respeitinho pelas lideranças. As vozes discordantes são importantes para questionar os menus pré-confecionados que uma e outra figura do Governo, que nem sempre do partido, vêm vender aos militantes nos périplos que de quando em vez fazem pelo país. Só assim, poderão ocorrer três fenómenos, hoje, vistos como quase impossíveis: a renovação dos quadros dos partidos políticos; o combate à iliteracia política reinante; e a devolução da nobreza de que se deve revestir o exercício da atividade política própria dos regimes democráticos, nos quais a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos, com o seu voto ou com a sua militância.

Estarão as direções partidárias disponíveis para isto? E os militantes que se têm mostrado distantes da cena política, estarão disponíveis para regressar e travar este combate?

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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