Juros continuarão altos “durante o tempo necessário”, avisa Lagarde

Presidente do BCE reafirma objectivo de colocar a inflação próxima dos 2% e diz que a política monetária “não deve tornar-se ela própria uma fonte de incerteza”.

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Lagarde em Jackson Hole com Kazuo Ueda (banco central do Japão) e Jerome Powell (Reserva Federal dos Estados Unidos) Reuters/ANN SAPHIR
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Depois de o presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos admitir que a autoridade monetária da maior economia do mundo vai manter uma política restritiva para combater a inflação, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, fez um discurso semelhante nesta sexta-feira no simpósio de Jackson Hole​, avisando que, na zona euro, as taxas de juro continuarão elevadas “durante o tempo necessário” até que o índice de preços estabilize.

Na última reunião do conselho do BCE, os responsáveis europeus voltaram a agravar dos custos de financiamento — subindo as taxas em 0,25 pontos percentuais, colocando a taxa das principais operações de refinanciamento nos 3,75% —, mas admitiram uma possível pausa entretanto. Lagarde disse então estar de “mente aberta” e, agora, repetiu a expressão. “A definição de políticas numa era de mudanças e rupturas exige uma mente aberta e a vontade de ajustar os nossos quadros analíticos em tempo real aos novos desenvolvimentos”, reafirmou, na conferência anual que reúne os principais banqueiros centrais do mundo em Jackson Hole, em Wyoming (Kansas).

Num momento de incerteza como o que se vive na economia mundial, disse, é necessário que os bancos centrais assegurem a estabilidade dos preços de acordo com os seus mandatos e, no caso do BCE, isso significa “na conjuntura actual”, fixar as taxas de juro “em níveis suficientemente restritivos durante o tempo necessário para alcançar um regresso atempado da inflação” ao objectivo de médio prazo de 2% (em Julho, estava nos 5,3%, ligeiramente abaixo dos 5,5% de Junho).

Mas, não existindo um “manual” com o guião para a “situação que enfrentamos actualmente”, os responsáveis dos bancos centrais — onde se inclui o BCE — terão de ser “flexíveis” na análise da realidade económica, disse.

Antes de Lagarde, Powell reconheceu que a Fed poderá vir a fazer novas subidas das taxas de juro, mas não foi taxativo ao dizer que isso acontecerá já em Setembro. E Lagarde também não antecipou o que acontecerá nas próximas semanas.

Anteriormente, na última reunião, o conselho do BCE admitiu uma interrupção nos agravamentos das taxas, deixando os custos do financiamento num nível restritivo.

Em Jackson Hole, Lagarde insistiu que a estabilidade dos preços “é um pilar fundamental” para haver um “ambiente favorável ao investimento” e, num mundo em mudança, “a política monetária não deve tornar-se ela própria uma fonte de incerteza”. Para a presidente do BCE, “mesmo quando se verificam desvios temporários” no objectivo do banco central para a inflação (2%), é “fundamental” manter a confiança do público de que, mesmo nesse “novo ambiente”, a autoridade monetária do euro não perde de vista esse objectivo para o médio prazo.

Embora reafirme esse objectivo, Lagarde admite que os preços poderão manter-se elevados se se verificarem novos choques. “Se a oferta global se tornar de facto menos elástica, incluindo no mercado de trabalho, e a concorrência global for reduzida, devemos esperar que os preços assumam um papel mais importante nesse ajustamento. E se igualmente enfrentarmos choques maiores e mais comuns — como os choques energéticos e geopolíticos —, poderemos ver as empresas a repercutirem os aumentos de custos de forma mais consistente”, avisou.

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