Morreu David Jacobs, o homem que levou Dallas ao mundo

O argumentista, também responsável pelo spin-off Knots Landing, tinha 84 anos e sofria de doença de Alzheimer.

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David Jacobs em 2004 Layne Murdoch/WireImage/Getty Images
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David Jacobs ficará para a História como o homem que deu ao mundo a saga da família Ewing, o epicentro de Dallas: uma das mais populares séries de televisão de sempre, que manteve colada ao ecrã uma audiência tão global quanto possível nos anos 1980. Antes disso, o argumentista, que morreu este domingo, aos 84 anos, fora jornalista e escrevera livros sobre pintores renascentistas ou Charles Chaplin. Foi graças à sua ex-mulher e ao seu novo marido que entrou no mundo da televisão. Queria fazer um Cenas de um Casamento, de Ingmar Bergman, à americana, mas, quando se juntou ao produtor executivo Michael Filerman, acabou por dar por si a explorar a saga de uma família texana enriquecida pela exploração do petróleo.

A notícia da morte de Jacobs, em Burbank, na Califórnia, foi avançada pela Hollywood Reporter, que a confirmou através do filho do autor. O argumentista sofria de doença de Alzheimer, a que veio juntar-se um quadro de múltiplas infecções.

Nascido em 1939, em Baltimore, começou por interessar-se pela pintura, que estudou, e pelo cinema. Escreveu em revistas, publicou livros de não-ficção e algumas histórias ficcionais. Na televisão, trabalhou, entre as décadas de 1970 e 1990, em séries como Family, The Blue Knight, Secrets of Midland High, Chicago Story e Bodies of Evidence. Em 1978, criou, para a CBS, a mítica Dallas, que começou como uma minissérie de cinco episódios e se foi expandindo, prolongando-se até 1991. Foram, ao todo, 14 temporadas, o que faz dela uma das mais duradouras séries televisivas de sempre. No final dos anos 1980, co-criou ainda Paradise, um western passado no final do século XIX, que esteve no ar também até 1991.

A ideia de Dallas não era glorificar o universo dos "novos ricos" do petróleo, mas a série acabaria por tornar-se um sucesso retumbante nos anos 1980 de Ronald Reagan e do avanço do capitalismo norte-americano. J.R. Ewing, o vilão da série, um homem ganancioso e sem escrúpulos, foi visto por muitos espectadores como um herói. As personagens foram originalmente escritas a partir de estereótipos, uma vez que o autor nunca tinha ido a Dallas; a sua primeira visita à cidade confirmou-os, levando Jacobs a carregar na extravagância dos seus protagonistas.

Em 1980, o final da terceira temporada da série foi um momento cimeiro da televisão da época. O último episódio deixou em suspenso se J.R., que havia sido alvejado, iria ou não sobreviver, e inaugurava o mistério em torno da identidade do seu atacante, que só se resolveria no quarto episódio da quarta época. A espera deixou galvanizados milhões e milhões de espectadores. Mas esse não foi um golpe de Jacobs. Depois da segunda temporada, o autor já estava mais envolvido em Knots Landing, um spin-off de Dallas mais focado em personagens de classe média, que esteve no ar entre 1979 e 1993, tendo tido ainda uma continuação em formato de minissérie em 1997. Em 2012, ainda houve lugar a um regresso actualizado de Dallas, com algum do elenco original.

Numa entrevista em vídeo publicada pela Academia de Artes e Ciências Televisivas em 2013 e citada pela Hollywood Reporter, Jacobs falou dos seus primeiros tempos na televisão, e da relação com Filerman, mais dado ao comércio do que à arte, no que não se revia. O nome Dallas foi, aliás, proposta do executivo, algo a que Jacobs se opôs, já que, no Texas, Houston era o verdadeiro centro do negócio do petróleo, sendo Dallas mais dada à banca. Ninguém esperava que fosse um sucesso e pegasse. Mas superou as mais ambiciosas expectativas.

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