Portugal escapa ao maior pico de falências na UE desde 2015

Número de bancarrotas na União Europeia cresce pelo sexto trimestre consecutivo. Aumento abrange toda a economia, mas acelera mais na restauração e alojamento. Em Portugal, sobe há três trimestres.

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Restauração e alojamento são os sectores em que o número de falências mais tem crescido, mas não em Portugal, onde essas actividades mostram mais resiliência face ao resto da Europa Nelson Garrido (arquivo)
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O número de falências declaradas na União Europeia (UE) voltou a aumentar no segundo trimestre do ano, atingindo o nível mais elevado desde 2015, segundo dados revelados esta quinta-feira pelo Eurostat. Portugal escapa a este pico de falências no mercado único, apresentando, por agora, dos números mais baixos entre os 27 Estados-membros.

Há seis trimestres que a UE vê cada vez mais bancarrotas, com o índice a atingir o valor de 105,7 pontos, ultrapassando no final de Junho de 2023 o anterior máximo (de 105,5), que já datava de Março de 2015.

Em Portugal, este indicador também está a crescer há três trimestres consecutivos, mas o valor no fim de Junho passado situava-se em 41, muito longe da média europeia e ainda mais longe do seu pico de 108,3, que tinha registado no terceiro trimestre de 2015.

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Aliás, Portugal é o quinto país com menos registos de falência, de acordo com estes dados, embora os números nacionais avançados nesta quinta-feira sejam estimativas da autoridade estatística da UE.

No topo da tabela está Espanha, com um índice de 280,1 (dados provisórios). Nestes dados, o Eurostat contabiliza o número de entidades que iniciaram o processo de declaração de falência, mediante declaração judicial, em qualquer momento do trimestre em causa. Porém, esta declaração pode ser provisória e nem sempre significa a cessação de actividade, alerta o Eurostat.

Analisando o resultado global, o número de falências aumentou 8,4% no segundo trimestre de 2023 face ao trimestre anterior. O índice usado pelo Eurostat, e que respeita o sistema-padrão de classificação da indústria usado no plano europeu, passou de 97,5 nos primeiros três meses de 2023 para 105,7.

Embora seja obrigatório desde 2021 comunicar os dados nacionais, dois países (Irlanda e Alemanha) não apresentam resultados. Com melhor índice do que Portugal surgem apenas Malta (0, dados provisórios), e Chipre (20), Letónia (36,7) e Roménia (39,4), estes últimos por estimativa do Eurostat.

Entre os países com mais registos no segundo trimestre de 2023 surgem, depois de Espanha, Eslováquia (274,8) e Hungria (246,8) – ambos com dados estimados –, Islândia (208,6, provisório) e Dinamarca (160,9, estimativa).

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Todos os sectores de actividade económica estão a ser afectados por este crescimento no número de falências, na análise em cadeia. Mas o alojamento e a restauração apresentam a maior aceleração (com mais 23,9%) face ao primeiro trimestre do ano.

Seguem-se os dos transportes e armazenagem (aumento de 15,2%) e os da educação, saúde e actividades sociais (mais 10,1%).

Mais uma vez, Portugal destoa da média europeia nos dados do alojamento e restauração, sectores de grande importância para a economia nacional.

O índice relativo às falências em Portugal naqueles ramos de actividade situa-se nos 50,9 pontos. Embora fique acima do total nacional, é o terceiro valor mais baixo de toda a UE. E a evolução trimestral é menos dramática do que no conjunto do mercado único.

No primeiro trimestre, o mesmo indicador nacional estava nos 50,7, quando no trimestre final de 2022 se situava em 48,9, depois de uma ligeira descida em relação aos 49 pontos do terceiro trimestre de 2022.

Também aqui os dados do país estão a léguas do pico que se atingiu no segundo trimestre de 2015, quando este indicador das falências na restauração e alojamento se situava em 113, o mais alto de toda a UE.

Indústria e construção resistem no pós-pandemia

Comparando os números mais actuais com os do último trimestre antes da pandemia de covid-19, nota-se que agora há mais registos do que nessa altura, com excepção de dois sectores: indústria e construção, que têm menos 11,5% e menos 2,7%, respectivamente, de registos de falências este ano.

Pela negativa, o destaque vai novamente para o alojamento e restauração (mais 82,5%) e transportes e armazenagem (mais 56,7%).

Os dados parecem confirmar, por um lado, que as ajudas públicas à economia que os governos mobilizaram durante a fase mais crítica da pandemia garantiram a sobrevivência de muitas empresas e que, agora, já com a guerra na Ucrânia em curso, a inflação acelerada e sem o mesmo nível de ajuda estatal, muitas já não se aguentam.

O ambiente económico também mostra uma tendência geral negativa no que toca à abertura de novos negócios.

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O registo de novas empresas mostra uma descida de 0,6% no conjunto da UE face ao primeiro trimestre deste ano. Ainda assim, este número de registos “tem sido, em 2023, superior ao do período 2015-2022”.

Portugal é o sétimo país da UE com maior número de novas empresas, com um índice de 140,8, acima da média comunitária (124) e atrás de França (180,2), Croácia (164,7) Roménia (157,6), Lituânia (151,8), Países Baixos (150,8) e Hungria (143,7).

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