Escritores e livreiros querem Amazon investigada por violação de leis antimonopólio

Peticionários argumentam que a dimensão e o domínio da retalhista no mercado do livro estão a afectar a livre troca de ideias. E esperam beneficiar das políticas antimonopólio da Administração Biden.

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Jeff Bezos fundou a Amazon há quase 30 anos Mike Blake
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O Sindicato dos Escritores dos Estados Unidos, a Associação Americana de Livreiros e o Open Markets Institute, think tank que se dedica a promover o reforço das políticas antimonopólio, juntaram-se para pedir ao Departamento de Justiça e à Comissão Federal do Comércio norte-americanos que investiguem o impacto da retalhista Amazon no mercado da venda de livros.

Numa carta enviada esta quarta-feira àquelas duas entidades, os representantes dos escritores e dos livreiros, assim como o think tank independente, questionam o tamanho da empresa quando comparada com outros agentes do mercado, mas também a sua capacidade de, através das suas acções online, promover determinados títulos e fazer desaparecer outros, afectando, assim, a livre troca de ideias, escreve o diário The New York Times.

Uma acção a que não deverá ser alheio o facto de haver indícios de que a Administração Biden, através da mesma Comissão Federal do Comércio, se prepara para voltar a levar a multinacional fundada por Jeff Bezos a tribunal, por violação das leis contra os monopólios.

Já no final de Junho a mesma comissão federal tinha acusado a gigante do comércio electrónico de enganar milhões de clientes, levando-os a subscrever o seu serviço Prime sem que eles disso se dessem conta.

"O que estamos a viver é uma situação em que o poder de uma única empresa dominante está a distorcer, de forma agregada, o tipo de livros que estamos a ler", disse o director executivo do Open Markets Institute, Barry Lynn, numa entrevista agora citada pelo jornal nova-iorquino. "Este tipo de poder concentrado não é aceitável numa democracia."

Representantes da empresa deverão reunir até ao final desta semana com membros da comissão federal para discutir uma possível nova acusação em tribunal.

A Amazon, que começou por vender livros online há 30 anos e hoje é um enorme conglomerado dono de cadeias de supermercados e de estúdios de cinema, não reagiu ainda às tentativas de contacto feitas pelo New York Times.

É também o New York Times que, citando números da WordsRated, uma organização de investigação e estatística sem fins comerciais, relata que à Amazon se devem 40% dos livros físicos vendidos nos Estados Unidos e mais de 80% dos livros electrónicos.

O impacto do seu site é de tal maneira significativo nas vendas no país que os subscritores da carta enviada à FCT (Federal Trade Commission, na sigla em inglês) e ao Departamento de Justiça garantem que autores e livreiros ficam dele reféns.

Os principais lesados, defendem os peticionários, são os autores menos conhecidos, já que não podem disputar as atenções da Amazon e do seu site com os escritores-estrela nem com as celebridades de outras áreas que decidem dedicar-se à escrita e cujas obras têm tudo para ser sucessos de vendas.

Embora haja quem aponte fragilidades à argumentação contra a Amazon, não falta também quem, como a directora da Associação Americana de Livreiros, Allison Hill, veja num possível processo em tribunal uma janela de esperança. "A Amazon deixou de ser controlada há tanto tempo que a nossa luta por condições equitativas se tornou discutível", disse. "A Amazon é dona do campo de jogo."

A influência desta gigante do comércio electrónico, que se viu sob uma chuva de críticas por causa dos despedimentos anunciados no início do ano, já se faz sentir também noutros sectores do mercado, como o da venda de roupa.

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