Raparigas em Israel obrigadas a sentar-se na parte de trás do autocarro por razões religiosas

Grupo de defesa dos direitos das mulheres diz que o Governo actual encoraja discriminação das mulheres. Num outro caso, o motorista recusou-se a responder a uma passageira.

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Mulheres participam numa manifestação contra as medidas do Governo que enfraquecem o poder judicial AMMAR AWAD/Reuters
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Dois incidentes com condutores de autocarro em Israel estão a provocar uma discussão em Israel sobre os direitos das mulheres: num caso, um condutor de um expresso que seguia de Ashdod, no Sul, para uma localidade na Galileia, obrigou um grupo de adolescentes, rapazes e raparigas, a separar-se, dizendo às adolescentes para ficarem na parte de trás do autocarro e para se cobrirem. No outro, um condutor recusou-se a responder a uma pergunta de uma mulher, por esta ser mulher.

O grupo de defesa dos direitos das mulheres Bonot Alternativa, que tem ganho visibilidade ao participar em manifestações contra o “golpe judicial” do Governo por temer os efeitos em algumas protecções das mulheres, declarou que os incidentes, que ocorreram no domingo em dois locais diferentes do país, são resultado da atmosfera política em que o “Governo de Israel está a trabalhar activamente para excluir e apagar as mulheres da esfera pública”, cita o diário Times of Israel.

Ainda que o Supremo Tribunal tenha proibido, em 2011, os transportes para ultra-ortodoxos em que os homens se sentavam à frente e as mulheres atrás, sempre houve, em bairros ultra-ortodoxos, uma espécie de acordo tácito para se manter essa disposição (assim como nos aviões, em que em geral há trocas para evitar que um homem ultra-ortodoxo se sente ao lado de uma mulher).

A separação entre passageiros em algumas linhas de autocarros é um dos exemplos do que o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém Eli Lederhendler classifica como “o grande ‘mas’ israelita” em relação à religião: é ilegal, mas acontece, por vontade dos passageiros, em linhas entre bairros ortodoxos ou entre um bairro ortodoxo e um grande terminal de transportes.

No caso do grupo de adolescentes, no entanto, o autocarro estava a fazer uma viagem de mais de três horas entre duas localidades, e uma das raparigas até perguntou aos passageiros ultra-ortodoxos se se importavam que o grupo continuasse junto, e estes disseram que não.

Uma das raparigas gravou a conversa com o motorista, quando lhe disse que se sentia humilhada por estar a ser obrigada a sentar-se na parte de trás do autocarro. “Vai dizer ao Canal 12 [uma televisão]”, responde-lhe o motorista. “Vocês vivem num Estado judaico e devem respeitar as pessoas que cá vivem.”

Quando a adolescente lhe diz que o país é uma democracia e ninguém tem o direito de dizer como se vestir ou onde se sentar, o condutor diz-lhe que “o que estão a fazer é que não é democrático”, e comenta ainda “o que se passa no país é por causa da vossa opinião”, descreve ainda o Times of Israel.

No outro incidente, Tzefi Erez, de 88 anos, contou que um motorista a ignorou quando ela lhe perguntou se estava no autocarro certo. Quando o marido perguntou ao condutor porque não estava a responder, este respondeu que se recusava a falar com mulheres.

“Fiquei profundamente magoada”, disse Erez, que sobreviveu ao Holocausto. “Já sofri demasiado… Vim para Israel, e de repente estou no Irão. Amanhã vão dizer-me para tapar a cara”, disparou, citada também pelo Times of Israel.

Ambas as empresas de autocarros – a Nateev Express e a Dan – pediram desculpas públicas e disseram que abririam uma investigação.

Os partidos de extrema-direita (nacionalistas, racistas e homofóbicos) e ultra-ortodoxos que estão no Governo na coligação com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tentaram, durante as conversações para negociar a coligação, ter maior separação entre homens e mulheres no espaço público, tendo proposto a legalização da separação de homens e mulheres não só em eventos culturais ultra-ortodoxos, mas também no ensino e nos serviços públicos.

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