Junta militar no Níger quer processar Presidente deposto por alta traição

CEDEAO vai reunir-se esta segunda-feira para voltar a pressionar os militares para entrarem em conversações para resolver a crise no país.

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O Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, foi deposto no final de Julho Reuters/MIKE SEGAR

A junta militar que tomou o poder no Níger, após um golpe de Estado no mês passado, disse que vai processar o Presidente deposto, Mohamed Bazoum, por alta traição por causa dos seus contactos com líderes estrangeiros e organizações internacionais.

Os líderes do golpe detiveram Bazoum e dissolveram o governo eleito, sendo condenados pela comunidade internacional e por parte dos países vizinhos, que activaram uma força militar que está preparada para intervir no país.

Não está apenas em jogo o futuro do Níger – um dos maiores produtores de urânio e um aliado do Ocidente no combate contra o terrorismo islamista –, mas também a influência das potências globais com interesses estratégicos na região.

O porta-voz da junta, o coronel Amadou Abdramane, disse num comunicado lido na televisão estatal que as autoridades militares “juntaram as provas necessárias para processar o Presidente deposto (…) por alta traição, por ter prejudicado a segurança interna e externa do Níger”. Se for considerado culpado, Bazoum poderá ser condenado à pena de morte.

Abdramane também disse que existe uma campanha de desinformação contra a junta com o objectivo de “impedir uma solução negociada para a crise para poder justificar uma intervenção militar (…) ao abrigo da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental]”.

A União Africana, a União Europeia, os Estados Unidos e as Nações Unidas manifestaram preocupação com as condições de detenção de Bazoum.

O partido político de Bazoum disse que a sua família não tem acesso a água corrente, comida fresca ou médicos, e Presidente deposto disse à Human Rights Watch que o filho necessita de ser visto por um médico por sofrer de uma doença cardíaca grave.

Mas a junta afirmou no domingo que Bazoum estava a ser visto regularmente pelo seu médico e que a última visita foi a 12 de Agosto. “Depois da visita, o médico não suscitou qualquer preocupação com o estado de saúde do Presidente deposto nem com os membros da sua família”, afirmou Abdramane.

Novas conversações

A CEDEAO deverá reunir esta segunda-feira para voltar a pedir mais conversações com a junta, que mostrou disponibilidade para encontrar uma solução diplomática para o impasse após o golpe de 26 de Julho.

A assembleia do bloco regional disse no sábado que pretende enviar uma comissão para se encontrar com os militares em Niamey, mas não é certo quando é que isso poderá acontecer.

O Conselho de Paz e Segurança da União Africana também deverá reunir esta segunda-feira para debater a situação no Níger, no que é um sinal do nível de preocupação sobre as consequências do sétimo golpe em três anos na África Central e Ocidental.

Os EUA, a França, a Alemanha e a Itália têm contingentes militares estacionados no Níger, numa região onde os braços locais da Al-Qaeda e do Daesh mataram milhares de pessoas e forçaram milhões a abandonar as suas casas.

Entretanto, a influência russa aumentou enquanto a insegurança se elevou, a democracia sofre, e os líderes procuram novos parceiros para repor a ordem.

As potências ocidentais receiam que a presença da Rússia possa aumentar se a junta do Níger seguir o exemplo do Mali e do Burkina Faso, que expulsaram as tropas da antiga potência colonial, a França, na sequência de golpes nos dois países.

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