“Revolta das toalhas” na Grécia quer que as praias sejam para toda a gente

Protesto popular luta contra a expansão de áreas concessionadas de cafés, hotéis e bares. Constituição grega protege o direito de acesso às praias para todas as pessoas.

Foto
Praia de Peraia, em Salónica Murad Sezer/Reuters
Ouça este artigo
00:00
03:30

A praia é um assunto muito sério na Grécia, tanto que a Constituição do país protege o direito de acesso às praias para todas as pessoas. Mas em muitas praias, cafés, bares ou hotéis têm aumentado de tal modo a zona ocupada pelas suas espreguiçadeiras e guarda-sóis que as praias se tornam, na prática, privativas – um fenómeno que tem sido ainda acompanhado por preços exorbitantes em alguns locais.

Mas em plena época turística um grupo de pessoas resolveu levar a cabo uma acção contra a expansão do espaço concessionado. Na ilha de Paros, centenas de pessoas juntaram-se numa praia popular exigindo espaço para pôr a sua toalha de praia – o movimento ficou, assim, conhecido como “a revolta das toalhas”.

Passados alguns dias, conseguiram resultados, conta o site Greek Reporter: metade da praia ficou livre para quem não quer pagar as espreguiçadeiras.

O grupo, que se auto-intitulou Movimento de Cidadãos de Paros para Praias Livres, diz estar “unido na preocupação pela diminuição do espaço público e pelo nosso afastamento das praias do nosso país”. Segundo as suas contas, citadas pelo site Macropolis, os bares de praia ocupam um total de 18.800 metros quadrados de praia, muito mais do que os 7186 que estão licenciados pelas autoridades locais.

A acção em Paros inspirou outros grupos noutras praias, e noutras ilhas têm surgido grupos com toalhas e cartazes com palavras como “Reclaim the Beach” (assim mesmo, em inglês). Jornais vão dando conta de acções semelhantes nas suas localidades: esta semana, a "revolta das toalhas" chegou, por exemplo, a Chania, na ilha de Creta.

A lei grega não prevê a possibilidade de praias privadas, já que a Constituição diz que todas as faixas de terra junto ao mar são propriedade do Estado, com acesso garantido ao público. As autoridades locais podem permitir a cafés ou bares de praia a exploração de uma parte da praia, mas nunca a sua totalidade, e o acesso tem de ser sempre possível ao público em geral, sem qualquer contrapartida.

Quem visitar o país pode, no entanto, achar que não é o caso, dado o número de praias que parecem estar totalmente ocupadas com áreas concessionadas, que têm acesso através de cafés, ou em que os estabelecimentos não permitem mesmo a passagem a quem não consuma ou alugue espreguiçadeiras.

O caso já mereceu a atenção do Supremo Tribunal, com a procuradora Georgia Adeilini a anunciar uma investigação.

O ministro das Finanças garantiu que iriam ser levadas a cabo mais inspecções, mas o Governo alegou ao mesmo tempo que é muito difícil fiscalizar o cumprimento da lei, apontando para a divisão de responsabilidades entre uma meia dúzia de entidades.

Segundo o diário Kathimerini, “foram dadas instruções para que nos próximos meses seja estabelecido um novo quadro de distribuição de responsabilidades, para que este esteja em vigor na próxima época turística”.

A disposição do Governo de agir foi notada pelo site Macropolis. As acusações de corrupção de inspectores locais para fecharem os olhos ao condicionamento do acesso são já antigas, mas o executivo poderá ter sido motivado a agir por dois factores: o movimento estar a ser mencionado em sites internacionais, que traçam um retrato das ilhas gregas como sítios “sem lei”, o que afecta a imagem do país como destino turístico; e ainda muitas pessoas estarem com cada vez mais dificuldades em fazer as suas férias de Verão no próprio país, como era hábito - estatísticas recentes dizem que uma em cada duas pessoas na Grécia já não conseguiu ir de férias este ano, um fenómeno novo e que se deve à subida de preços pela presença de turistas com maior poder de compra.

Como dizia o movimento de cidadãos de Paros, citado pelo Greek Reporter: “O Verão grego é parte da nossa alma, parte da nossa identidade. Não vamos deixar que nos tirem isso.”

Sugerir correcção
Ler 26 comentários