Em Belém, plantaram-se árvores que simbolizam a paz entre religiões

No Jardim Botânico Tropical da Universidade de Lisboa, plantaram-se árvores que representam seis famílias religiosas. A ideia é recordar daqui a muitos anos que as JMJ se realizaram em Lisboa.

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Jovens de várias religiões plantam árvores do mundo em Lisboa Teresa Serafim, Tiago Bernardo Lopes
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Priyal Vassaramo pega numa pá e despeja terra por cima do pé de uma figueira. Ao seu lado, jardineiros seguram a árvore e ajudam a que fique fixa. De um lado e do outro da jovem hindu, estavam jovens de outras cinco religiões a fazer o mesmo gesto. “Estamos aqui todos juntos pela paz e pela união”, diz a rapariga já depois de ter deixado a árvore de pé num espaço do Jardim Botânico Tropical da Universidade de Lisboa, em Belém.

Estes jovens participaram, quarta-feira, numa cerimónia de plantação de árvores associadas a seis grandes famílias religiosas: o taoismo, o hinduísmo, o budismo, o judaísmo, o cristianismo e o islão. O evento aconteceu a propósito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e foi organizado pela Universidade de Lisboa, através de uma proposta da equipa de missão que preparou o encontro do Papa com jovens de todo o mundo, em Lisboa.

A ver a plantação, estavam representantes de todas as religiões. “É uma forma de unir as pessoas e de mostrar a fraternidade entre as religiões”, diz Priyal Vassaramo, de 22 anos, ao lado da sua figueira. A jovem hindu gosta muito da natureza e esta cerimónia teve um significado especial para si: “Fez com que ficasse muito mais conectada. Estamos aqui todos juntos para mostrar a paz que existe no mundo.” Não tem dúvidas que os jovens são uma das maiores fontes dessa paz e que as árvores são uma grande ajuda na união entre as pessoas.

Nas orações que faz, as árvores ocupam um bom tempo desses momentos. “Temos dias muito específicos no qual nós veneramos, oramos e fazemos as nossas rezas às árvores. Elas fazem parte da nossa vida.”

Priyal Vassaramo esteve a representar o hinduismo na cerimónia Tiago Bernardo Lopes
Foi plantada uma figueira para representar o hinduismo Tiago Bernardo Lopes
Foi plantada uma figueira para representar o hinduismo Tiago Bernardo Lopes
Em frente às árvores, foram colocadas placas Tiago Bernardo Lopes
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Priyal Vassaramo esteve a representar o hinduismo na cerimónia Tiago Bernardo Lopes

A observar a plantação das árvores esteve Samir Ali, da Comunidade Muçulmana Ismaili. A árvore atribuída à sua religião foi a tamareira, mas Samir, de 17 anos, vai também apreciando as outras espécies. “Estas actividades mostram-nos o quão diverso é o mundo onde nós estamos e que há tantas mais coisas semelhantes com as outras religiões do que coisas que nos diferem uns dos outros.” Em nome da união, é um dos voluntários da JMJ.

Ao todo, foram plantadas seis árvores. Dispostas numa semi-elipse, são elas: um pessegueiro (Prunus persica) que representa o taoismo; uma figueira-dos-pagodes (Ficus religiosa) para o budismo; a figueira-indiana (Ficus benghalensis) para o hinduísmo; uma oliveira (Olea europaea) para o judaísmo; uma outra oliveira para o cristianismo; e uma tamareira (Phoenix dactylifera) para o islamismo.

“Procurámos saber qual a árvore mais adequada para cada religião”, disse durante a cerimónia Peter Stilwell, director do Departamento das Relações Ecuménicas e Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, e uma das pessoas que ajudou a organizar esta iniciativa. Quanto ao facto de serem atribuídas uma oliveira tanto ao judaísmo como ao cristianismo, afirmou: “Dá que pensar... Faz sentido a proximidade entre a comunidade judaica e a nossa. Não existimos sem a tradição judaica.” As duas oliveiras foram oferecidas pela Embaixada de Israel em Portugal e vieram de Jerusalém.

Árvores que lembram fraternidade

E para a plateia que assistia à plantação, o sacerdote proferiu: “Toca-me este encontro como amigos que somos. Que estas árvores lembrem a nossa fraternidade!” Além de representantes de cada religião, na plateia, estavam a ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes; o embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira; António Sampaio da Nóvoa; o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira; Rosário Farmhouse, presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens; e José Sá Fernandes, coordenador da equipa de missão que preparou a JMJ.

Os últimos convidados a chegar foram o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, e Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, depois de terem estado numa cerimónia com o Papa Francisco no Mosteiro dos Jerónimos, mesmo ao lado do Jardim Botânico Tropical. E Manuel Clemente fez questão de deixar uma mensagem: “As árvores aqui são um apelo na sua variedade e ao mesmo tempo no seu conjunto, como o universalismo bem entendido é um encontro de culturas, de religiões e de povos. Por isto, este lugar é muito importante e significativo para o que estamos aqui a comemorar.”

Cerimónia realizou-se no contexto da JMJ Tiago Bernardo Lopes
Foram plantadas árvores que representam seis grandes familias religiosas Tiago Bernardo Lopes
O cardeal Pietro Parolin esteve presente Tiago Bernardo Lopes
Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, também discursou Tiago Bernardo Lopes
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Cerimónia realizou-se no contexto da JMJ Tiago Bernardo Lopes

Paulo Alberto, vice-reitor da Universidade de Lisboa e um dos responsáveis da iniciativa, diz que este foi “uma forma perene” de assinalar a vinda do Papa a Portugal e especificamente à JMJ. “Daqui a 50 anos, poucos de nós cá estaremos, mas as árvores cá estarão”, notou ao PÚBLICO. “Queremos que seja testemunho da presença do Papa na Jornada Mundial da Juventude.” Além disso, considera que a Universidade de Lisboa tem a função não apenas de estudar e ensinar, mas também de participar nestas iniciativas. “Pareceu-nos uma excelente ideia.”

O vice-reitor confessa que é um apaixonado pelas árvores e de como elas “nos fazem pensar como somos pequenos”. E conclui: “As árvores plantadas vivem mais de 3000 anos. Não sei o que acontecerá daqui a 3000 anos, mas elas estarão ali com uma placa que dirá o que elas representam: o assinalar da presença do Papa Francisco a Lisboa numa cerimónia que pretende dar um sinal de convivência entre todas as religiões.”

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