Novo excedente comercial, mas…

Que iniciativas têm sido feitas para atrair Investimento Direto Estrangeiro que faça aumentar as exportações e substituir as importações por produção nacional, preparando Portugal para o futuro?

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Durante décadas acumulámos elevados e persistentes déficits na balança de bens e serviços, que em 2008 atingiu o desequilíbrio externo mais elevado, ao ultrapassar o impressionante valor de 16,5 mil milhões de euros. Em 2012 atingimos pela primeira vez o equilíbrio externo, sendo que nos sete anos seguintes conseguimos obter sucessivos excedentes comerciais, com o valor mais elevado a verificar-se em 2016: 3,1 mil milhões de euros.

Fruto da diminuição do turismo em épocas de covid, em 2020, 2021 e 2022 voltámos aos tradicionais déficits, embora não tão elevados como anteriormente. Terminada a pandemia, tudo indica que em 2023 voltaremos aos excedentes comerciais. De acordo com o Banco de Portugal, até maio foi registado um excedente na balança de bens e serviços de 704 milhões de euros, que muito se deve ao bom desempenho do turismo.

Tal como entre 2012 e 2019, as exportações de serviços devem este ano ser o dobro das correspondentes importações, mesmo considerando a redução de turistas espanhóis no Algarve, em face da perda de poder de compra.

É mais do que óbvio que uma balança de bens e serviços excedentária é positiva para um país, porque são valores líquidos que entram na economia e que vão somar às restantes rubricas do PIB, em vez de deduzir.

Também é verdade que existem diversos países no Mundo que equilibram as suas contas em face dos elevados fluxos turísticos, mas também é verdade que países na Europa como Dinamarca, Luxemburgo e Países Baixos apresentam excedentes tanto em bens como em serviços. Verificando a situação de Espanha, constata-se que apresenta o dobro do déficit português em bens, com quatro vezes mais habitantes.

Em termos de bens, Espanha importa menos 300 euros per capita que Portugal e exporta mais 1000 euros, mas em termos macroeconómicos, se igualássemos os rácios espanhóis, conseguiríamos obter cerca de 13 mil milhões de euros de movimentos favoráveis para a balança de bens, o que levaria o nosso déficit nesta balança para cerca de metade, aumentaria o PIB entre 4 e 5% e reduziria o rácio da dívida pública mais ou menos no mesmo montante.

Claro que não é fácil, 13.000 mil milhões representam o equivalente a quatro vezes a Autoeuropa, nem é de um momento para o outro que se conseguem estes números, mas tudo depende dos apoios concedidos ao Investimento Direto Estrangeiro (IDE) e ao nacional e da atratividade de Portugal para atrair investimento industrial de elevado valor acrescentado.

Contrariamente aos ordenados pagos pelo setor do turismo, que em termos médios são baixos, o IDE industrial de elevado valor acrescentado remunera os seus trabalhadores com ordenados claramente superiores à média nacional, pois requer mão-de-obra qualificada.

Que iniciativas têm sido levadas a cabo para atrair IDE que faça aumentar as exportações de bens e substituir as importações por produção nacional, preparando Portugal para as próximas gerações? Porque se continua a perder tempo a discutir a construção de um novo aeroporto de raiz, quando se espera que no futuro uma grande parte do tráfego aéreo europeu vá ser substituído pela ferrovia, em face da necessária redução dos gases poluentes? Chega-se e parte-se praticamente dos centros das cidades, não existe necessidade de chegar uma ou duas horas antes da partida, é rápido, usufrui-se de mais espaço para circular e, por fim, os preços são concorrenciais. Veja-se, por exemplo, o que está a acontecer nas ligações aéreas e de ferrovia entre Roma e Milão.

Orientar as opções para o que é mesmo importante é o que Portugal precisa, mas claro que isso não serve os clientes do costume, que vivem à sombra do poder político e que pouco se importam com os supremos interesses nacionais.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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