Banco central japonês dá sinais de se poder juntar ao clube dos que sobem juros

Com a inflação agora ligeiramente acima dos objectivos, o Banco do Japão começa a preparar uma subida das suas taxas de juro, que ainda estão a níveis negativos.

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Kazuo Ueda, governador do Banco do Japão Reuters/KIM KYUNG-HOON
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Numa altura em que o Banco Central Europeu (BCE) e a Reserva Federal norte-americana dão sinais de estar mais perto de porem um ponto final no processo de endurecimento da sua política monetária, o Banco do Japão, o último resistente entre os grandes bancos centrais mundiais a uma subida das taxas de juro, parece estar agora prestes a mudar de rumo.

Num anúncio que apanhou muitos de surpresa nos mercados, os responsáveis da autoridade monetária nipónica decidiram esta sexta-feira que podem começar a comprar títulos de dívida pública a uma taxa de juro de 1%, um valor acima dos 0,5% antes praticados, o que na prática constitui uma flexibilização do intervalo definido pelo banco central para as taxas de juro de longo prazo, situado entre os 0% e os 0,5%. Kazuo Ueda, o governador do Banco do Japão, disse, em conferência de imprensa, que a medida adoptada era "preventiva".

É verdade que as taxas de curto prazo do banco central se mantiveram em -0,1%, mas a alteração agora anunciada no que diz respeito às taxas de juro da dívida pública está a ser lida como um sinal de que o Japão irá, brevemente, juntar-se à generalidade dos outros países e entrar numa fase de agravamento dos custos de financiamento para travar a subida da inflação.

A economia japonesa e o seu banco central têm sido até agora um caso à parte a nível global, principalmente por causa da história de deflação que o país tem vivido ao longo das últimas décadas. Desde os anos 1990 que o Japão tem sentido dificuldades em escapar aos riscos de queda na armadilha da deflação, que empurra o país para uma estagnação da economia.

O banco central tem vindo a adoptar políticas ultra-expansionistas ao longo dos anos, mas nem por isso tem conseguido quebrar um cenário em que salários, preços, consumo e investimento quase nada crescem.

Mesmo a seguir a Março do ano passado, quando a guerra na Ucrânia espalhou pelo mundo as pressões inflacionistas decorrentes da subida dos preços da energia, a inflação no Japão registou subidas bem mais moderadas do que noutros países, não sendo sequer claro que pudesse vir a atingir no total deste ano a meta dos 2% definida pelo banco central.

Nos últimos meses, contudo, tanto a inflação como os aumentos salariais aceleraram e o Banco do Japão reviu em alta a sua previsão de inflação para este ano, de 1,9% para 2,5%.

É isto que está a fazer com que a autoridade monetária comece a preparar-se para tirar as suas taxas de juro do terreno negativo onde se encontram. A subida, contudo, não será certamente muito acentuada, já que não existem ainda certezas de que, num país que se habituou a viver com os preços praticamente parados, a subida da inflação a que agora se assiste tenha mesmo vindo para ficar.

O Banco do Japão é o primeiro a duvidar, tendo mantido previsões para a inflação de 1,9% em 2024 e de 1,5% em 2025, ou seja, novamente abaixo do seu próprio objectivo.

A decisão do Banco do Japão acontece na mesma semana em que tanto a Reserva Federal como o BCE anunciaram subidas de 0,25 pontos percentuais nas taxas de juro de referência, dando no entanto sinais de que estão agora mais perto de colocar um ponto final no processo de endurecimento da sua política monetária que já dura desde Março do ano passado no caso da Fed e desde Julho do ano passado no caso do BCE.

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