Alunos estudam uso de halobactérias do bacalhau para germinar alfaces em solos salinizados

Equipa extraiu halobactérias do bacalhau e passou-as para “uma solução de rega”. Os resultados revelaram-se positivos nas fases de germinação e desenvolvimento das sementes e das alfaces.

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Projecto estuda a influência de halobactérias na germinação de alfaces em solos salinizados PAULO PIMENTA
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Alunos da Escola Secundária Júlio Dinis, em Ovar, estão a estudar a influência de halobactérias – microorganismos que se encontram em ambientes com uma elevada concentração de sal – na germinação e no desenvolvimento de alfaces em solos salinizados e esperam um dia conseguir aplicar os resultados a outras culturas.

O projecto, que valeu aos três alunos, em Junho, uma menção honrosa no Concurso Nacional para Jovens Cientistas, foi apresentado durante o Encontro Ciência 2023, em Aveiro, no início de Julho. Ao PÚBLICO Nuno Rogério Alves da Silva, um dos alunos envolvidos no projecto, explica que tudo começou no clube de ciências da Escola Secundária Júlio Dinis em que os alunos desenvolvem um projecto de investigação.

Durante um processo de brainstorming e de procura de inspiração, os jovens acederam ao site do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (Cesam), uma das unidades de investigação da Universidade de Aveiro, tendo-se deparado com um “projecto sobre a influência das bactérias na protecção contra efeitos ou stresses bióticos e abióticos em oliveiras”, explica Nuno da Silva.

Inspirados neste tema, os alunos decidiram “pegar num projecto que já tinha sido feito na escola anteriormente” e adaptá-lo um pouco. “Mudámos o tipo de bactérias que usamos e tentámos mudar alguns parâmetros para desenvolver o nosso próprio projecto”, destaca o aluno, com a equipa a contar com a ajuda das investigadoras cujo trabalho lhes serviu de inspiração.

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Os alunos Nuno Silva, Marco Morgado e Bianca Valente na Mostra Nacional de Ciência DR

O “grande contributo” destas investigadoras da Universidade de Aveiro, segundo Nuno da Silva, “foi ao nível de identificação das bactérias”. “Nós extraímos as bactérias do bacalhau, mas tínhamos de saber quais é que eram e elas ajudaram-nos a identificar”, afirma, salientando que este é um processo que “tem que ser feito com o apoio de um laboratório de investigação”.

Bianca Valente da Paz, uma das alunas também envolvida no projecto, esclarece que a equipa extraiu “halobactérias de bacalhau comercial podre” e depois passou estas halobactérias para “uma solução de rega”. Posteriormente, os jovens investigadores regaram as alfaces e verificaram “quais os efeitos” – se eram positivos ou negativos. A conclusão foi que, “pelo menos nas fases de germinação e do desenvolvimento tanto das sementes como das alfaces”, os resultados eram positivos. “Às vezes aconteciam alguns percalços, mas a ciência é feita disso”, acrescenta Biana Valente da Paz.

Porquê o bacalhau? “A ideia do bacalhau surgiu devido ao seu processo de conservação com recurso ao sal”, explica a aluna. “É comum desenvolverem-se na sua superfície, durante o processo de decomposição, colónias de bactérias halófitas como as que procurávamos, sendo a sua presença marcada pela existência de manchas rosadas”, afirma.

Para já, a equipa começou com as alfaces, sendo este um projecto “bastante recente”, que começou a ser desenvolvido em Janeiro, conta Nuno da Silva. “Testámos [inicialmente] com alfaces porque as alfaces têm um elevado teor de água e o principal efeito negativo da salinidade é aquilo a que se chama stress osmótico, em que as plantas não conseguem absorver água porque o sal retém a água no solo”, explica o aluno.

Para que este projecto pudesse ser aplicável a outras culturas, os alunos teriam provavelmente de “desenvolver novos testes e de adaptar o método porque nem todas as culturas são iguais”, afirma Nuno da Silva. Além disso, há “uma série de parâmetros que precisam de ser fixados” porque o projecto tem de “ter regras de aplicação”.

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